Sim, é todo decalcado do desenho animado de 1991. Sim, ainda é sobre enxergar beleza para além da aparência. Sim, tem feiticeiras, maldições e objetos falantes. Sim, tem final feliz. Mas a versão live action de A Bela e a Fera, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas, vai além da mera reciclagem/homenagem: é um produto do seu tempo, atual e provocador.
Pelas mãos do diretor Bill Condon, Bela (Emma Watson) reencarna como uma típica millennial, enfastiada com a vidinha mais ou menos que leva no povoado francês onde mora com o pai, Maurice (Kevin Kline, no registro habitual). Sua válvula de escape são os livros, o que lhe garante a fama de esquisitona da cidade – afinal, onde já se viu consumir cultura ao invés de, sei lá, encontrar um homem e casar?
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Pretendentes não faltam, como Gaston (Luke Evans), caricatura do protomacho estúpido e ególatra, não à toa adorado pelos aldeões. Apesar (ou até por causa) do verniz de virilidade que recobre músculos, topete e atitudes do vilão, Gaston é sexualmente confuso _–diferentemente de seu escudeiro, LeFou (Josh Gad), gay do tipo que sobe na mesa da taverna para dançar e nutre uma paixão platônica pelo amigo (e que é correspondida em algum nível, Condon deixa bem claro).
De qualquer forma, Bela não quer casar. Bela quer se aventurar, conhecer a Paris de que só ouve falar. Mas um infortúnio a leva ao castelo da Fera (Dan Stevens), onde acaba prisioneira do bicho e do seu séquito de objetos falantes, entre eles o candelabro Lumière (Ewan McGregor, excelente) e o relógio Cogsworth (Ian McKellen, subaproveitado). Lá, ela irá se apaixonar – primeiro pela biblioteca do monstro, e depois, pelo próprio.
Emma Watson funciona bem como Bela. Está longe da donzela em perigo e convence como anti-princesa de rostinho angelical e atitude destemida. Em momento algum abre mão de sua liberdade – e quando o faz, é para poder entregá-la por vontade própria.
Mais resignado com a própria sorte é a Fera, vítima da maldição que pune o então arrogante e vil príncipe. É um animal que parece aceitar os grilhões do destino como forma de purgar os erros do passado – um passado onde a ausência da mãe abriu caminho para um pai ruim.
É o importante adendo de Condon, crucial para tempos como os de hoje: ninguém nasce mau.
Cinema
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Gustavo Brigatti
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