Pinturas, esculturas, gravuras e outras obras de arte proporcionam um novo mergulho nos efusivos anos 1980. A Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB), localizada em Viamão, apresenta na Sala dos Pomares a inédita exposição 80’s, que reúne obras produzidas por mais de 30 artistas e encara de frente as transformações que a época trouxe para o campo das artes visuais. Com entrada gratuita, a mostra pode ser conferida até o dia 23 de julho, entre 11h e 17h.
A produção artística nos anos 1980 se fomentou em um Brasil que vivia a fase da abertura política e da democratização, com o fim da ditadura militar em 1985 e a criação do Ministério da Cultura, cuja gestão seria entregue à José Aparecido de Oliveira. Desde os anos 1970, as galerias de arte vinham crescendo em número, e artistas passaram a se profissionalizar com o impulsionamento da arte universitária – mas a década seguinte quebrou com os padrões estabelecidos até então.
— Houve um boom da pintura e da escultura e eles ressurgiram de uma maneira diferente. Os anos 1970 foram da arte conceitual, de uma contracorrente em relação ao mercado. E os anos 1980 voltaram-se para uma arte mais sensorial. Não é o tipo de arte que tu tens que ler e pensar sobre ela — explica a curadora Vera Barcellos.
Testemunha de todo esse contexto, Vera — artista que representou o Brasil na Bienal de Veneza em 1976 e, mais tarde, virou colecionadora — aproveitou a série de obras adquiridas em leilões pela Fundação para fazer uma exposição a fim de retratar um pouco do período.
Fugindo do estereótipo da pintura muito expressionista, o conjunto de trabalhos selecionados por Vera são caracterizados pela curadora como sendo “eclético”: contempla peças de brasileiros, mas também de estrangeiros radicados ou vinculados ao cenário nacional.
Acervo
Com texto do historiador da arte José Francisco Alves, destacam-se obras como uma pintura de Ana Alegria, esculturas de Patricio Farías, telas de Anna Bella Geiger e uma pintura sobre papel de Iberê Camargo. Além destes, figura na exposição a cópia de um trabalho da própria Vera, Capitel Vermelho (1988), cuja versão original está no Museu de Arte Contemporânea, em São Paulo. Trata-se de uma instalação com fotografia em caixa de luz com backlight e outra caixa com carvão.
— A foto é das missões jesuíticas de São Miguel, que fiz em 1987, e ela está apoiada na parte de cima de um capitel de pedra, com a parte superior para baixo tal como estava na época em exibição no museu das missões. Trata das destruições das missões, o carvão se refere a isso — explica ela.
A mostra também abrange trabalhos de colagem, serigrafia, desenho e três produções de videoarte. Este último é, ao mesmo tempo, uma representação da presença crescente dos meios digitais na década e um prelúdio à próxima exposição do espaço, que vai abordar arte postal e xerox, documentos, vídeo experimental, livros de artistas e algo de performance, sob curadoria de Ana Albani de Carvalho e Paulo Silveira.
Em uma exposição bastante diversa, nem todas as peças são de propriedade da Fundação —a coleção de Vera começou a ser construída a partir do troca-troca de obras entre artistas em meados dos anos 1970, com posteriores aquisições. Anos depois, em 2003, o acervo deu origem à Fundação Vera Chaves Barcellos. Para a 80’s, a curadora conta que houve vários empréstimos, a exemplo das peças cedidas da coleção particular de Heloisa Schneiders da Silva.
A Sala dos Pomares, inaugurada oficialmente em 2010, fica dentro de uma propriedade de seis hectares, a 22 quilômetros da Capital, na Senador Salgado Filho, 8.450. As visitações são feitas via inscrição, pelo e-mail educativo.fvcb@gmail.com ou pelo telefone (51) 98229-3031.