A Praça da Alfândega foi mais uma vez palco de uma performance artística. Nesta terça-feira, o espetáculo Despindo a Cidade dos Preconceitos foi encenado em frente ao Santander Cultural, como um protesto contra o cancelamento da exposição Queermuseu. Ao contrário da semana passada, quando um ato terminou em conflito com agressões físicas e intervenção da Brigada Militar, a noite foi encerrada de modo tranquilo.
– Queríamos mostrar nossa arte, embora soubéssemos que poderia haver algum tipo de provocação. Tínhamos estratégias para lidar com isso, mas nada foi necessário – conta Marcelo Restori, um dos diretores da performance.
A ação começou por volta das 18h30min, e durou cerca de 20 minutos. Os atores se espalharam pela escadaria de acesso ao Santander Cultural e pela Praça da Alfândega. Dezenas de pessoas assistiam à performance, algumas inclusive se despiram junto com os artistas, que caminharam entre o público e abraçaram alguns dos presentes.
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Despindo a Cidade dos Preconceitos vem sendo encenado em áreas públicas da Capital há alguns anos, e surgiu como um maneira de denunciar a cultura do estupro. Dessa vez, o espetáculo foi adaptado para também tematizar o final abreviado da mostra Queermuseu.
– A gente começou tratando da cultura do estupro, mas a censura também é um abuso sobre os corpos. Voltamos à carga neste momento porque achamos importante esse discurso artístico, e também para confrontar a covardia do Santander. Já que a instituição montou uma mostra artística, não deveria ter recuado por conta da pressão de alguns grupos – explica Restori.
Para a atriz e diretora Karine Paz, a nudez é uma maneira de demonstrar como o corpo poderia ser encarado com maior naturalidade:
– Esse corpo nu não é um corpo sexualizado. O corpo é natural, é o que a gente é, o que a gente tem.
Tribunal nega recurso para reabertura da exposição Queermuseu
No mesmo dia em que os artistas protestavam contra o encerramento precoce da exposição, a 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) negou liminar em uma ação popular que pede a reabertura da mostra Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira. A ação foi movida por um morador de Pelotas (RS) sob alegação de risco de prejuízo ao erário, tendo em vista que a exposição foi financiada pela União Federal por meio da Lei Rouanet.
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O autor também argumentou que o ato de fechamento não encontra respaldo na Constituição Federal, pois teria sido motivado "por um discurso preconceituoso e obscurantista". O relator da decisão, juiz federal Sérgio Renato Tejada Garcia, confirmou o entendimento da Justiça Federal de Porto Alegre, em decisão liminar proferida no dia 13. Para o magistrado, o encerramento prematuro da exposição Queermuseu não evidencia o alegado dano ao patrimônio artístico e cultural nacional. Ele ressaltou que as obras continuam íntegras, preservadas e acessíveis aos seus curadores.
Quanto ao direito de acesso do cidadão à exposição pelo prazo inicialmente previsto, o magistrado considerou que isso deverá ser avaliado durante a instrução processual. O juiz acrescentou que no fato ocorrido, não há ato de censura estatal que possa justificar a anulação do fechamento pelo Poder Judiciário. Tejada Garcia pontuou que a avaliação dos fatores que levaram ao encerramento da mostra constituiria ingerência indevida em ato de gestão de instituição financeira privada.