Ao longo de 40 anos, Silvio Nunes Pinto fez de sua pequena oficina de marcenaria, em Viamão, um universo particular no qual deu forma a uma série de engenhosos objetos em madeira.
Quando ele morreu, em 2005, aos 65 anos, a artista Vera Chaves Barcellos decidiu entrar nesse espaço de criação tão íntimo para ver o quanto dessa produção havia sido ali guardada ao longo do tempo.
A surpresa foi não só encontrar centenas de peças nunca vistas, mas descobrir que se tratava de um conjunto de trabalhos de força expressiva, situados na tênue linha do que separa o que é arte ou artesanato, artista ou artesão, estético ou utilitário.
– O Silvio chamava esse espaço de "meu ateliê”, e os trabalhos dele, de "minha obra" – comenta Vera, que o conheceu ainda nos anos 1960.
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O inventário dessa obra deixada pelo artesão-artista em seu ateliê é pela primeira vez levado a público com Ofício e engenho, exposição que será inaugurada pela Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB) neste sábado, às 11h, na Sala dos Pomares, em Viamão.
Autodidata e sem nenhuma instrução artística, Nunes Pinto deu origem a objetos e esculturas que intrigam pela originalidade das construções e pelo grau de invenção formal que ultrapassa a função utilitária. Esse caráter o vincula a toda uma linhagem da chamada arte popular ou naïf. Também pelo fato de que a matéria é a madeira, seja ela trabalhada no entalhe ou como módulos a serem acoplados na elaboração de objetos. E porque a natural feição rústica confere às inventivas criações uma atemporalidade típica da arte primitiva.
– Ele não tinha formação artística, mas era muito habilidoso, observador e tinha uma grande sensibilidade – comenta Vera. – A criatividade e certo humor fazem com que muitas das peças não sejam decifradas de primeira em seu motivo ou utilidade.
Nesse sentido, os móveis nunca parecem ser exatamente móveis, tamanha é a estranheza causada pelo design inusitado. O mesmo vale para os objetos que Nunes Pinto considerava decorativos por não terem função, mas que, observados agora, podem facilmente ser reconhecidos como esculturas.
Na exposição, também podem ser vistas diversas ferramentas igualmente intrigantes que o próprio Nunes Pinto construiu, mas não sem subverter a feição que habitualmente se esperaria de instrumentos funcionais. Tudo isso criado no pequeno ateliê que foi reproduzido na exposição em suas dimensões originais para exibir um vídeo com imagens captadas no original espaço de trabalho.
SILVIO NUNES PINTO: OFÍCIO E ENGENHO
Abertura sábado, das 11h às 17h.
Visitação de segunda a sexta, das 13h30min às 17h30min, mediante agendamento. Até 16 de dezembro, gratuito.
Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB), em Viamão (Avenida Senador Salgado Filho, 8.450, RS-040), entre as paradas de ônibus 53 e 54.
Neste sábado, haverá transporte especial gratuito. Embarques às 10h e às 14h, em frente ao Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Disponibilidade sujeita à lotação e a agendamento. Informações e reservas pelo e-mail info@fvcb.com ou pelos telefones (51) 3228-1445 e (51) 8102-1059.
A exposição: apresenta a produção que o artesão Silvio Nunes Pinto realizou ao longo de quatro décadas, de modo autodidata e usando preferencialmente madeira, em uma pequena oficina em Viamão.