Reconhecido pela Igreja Católica como padroeiro dos migrantes, dom João Batista Scalabrini (1839-1905) será canonizado neste domingo (9) no Vaticano. De origem italiana, o fundador de uma congregação que construiu obras de grande impacto para o Estado, como o Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, esteve por 59 dias no Rio Grande do Sul, em 1904.
A passagem pelo RS teve jornadas diárias a cavalo, que se estenderam de oito a 10 horas, entradas apoteóticas nas cidades e mais de 6 mil gaúchos crismados, conforme registros de jornais da época. De acordo com o livro João Batista Scalabrini, Profeta da Igreja Peregrina, de Redovino Rizzardo, publicado pela editora Vozes, em 1974, o beato desembarcou em Rio Grande no dia 8 de setembro de 1904, onde iniciou uma jornada intensa que contemplaria 13 municípios, percorrendo o Interior para visitar os colonos italianos.
Do Brasil, partiu para a Argentina, tendo chegado de volta à Itália em 6 de dezembro 1904. Veio a falecer seis meses depois, em 1° de junho do ano seguinte.
Nascido na província de Como, o religioso despertou para o tema da migração quando ainda era pároco, ao visitar, de passagem, a estação ferroviária de Milão. Em meio ao movimento dos trens, sensibilizou-se com centenas de famílias em condições precárias, as quais iniciavam sua jornada rumo ao continente americano,
Em 1887, quando já era bispo em Piacenza há mais de uma década, fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos, seguida pelo ramo feminino, a Congregação das Missionárias de São Carlos, fundada em 1895. Além disso, também foi criador da Sociedade São Rafael, em 1889, que prestava assistência em postos de embarque e desembarque. Quando chegou ao RS, já foi recebido por comitivas locais como grande autoridade da Igreja Católica.
Obra
Ao Brasil, as primeiras irmãs missionárias scalabrinianas chegaram em 1895, e o próprio Scalabrini esteve no país em 1904, visitando obras da congregação em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Atualmente, o legado scalabriniano no Estado é representado pela Associação Educadora São Carlos (Aesc), com atuação marcante na saúde, na educação e na acolhida a migrantes e refugiados.
Além do Hospital Mãe de Deus, a associação também mantém, na Capital, o Hospital Santa Ana e quatro Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD). No Litoral, é responsável pelos hospitais Santa Luzia, em Capão da Canoa, e Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres. Além disso, três colégios fazem parte da rede Educação Scalabriniana Integrada: São Carlos, em Caxias do Sul; Nossa Senhora de Lourdes, em Farroupilha; e São Carlos, em Santa Vitória do Palmar. A missão original é exercida pelo Centro de Atendimento ao Migrante, em Caxias do Sul.
Milagre
A canonização de dom João Batista Scalabrini é um caso raro em que a Igreja Católica dispensa a prova de um segundo milagre. O italiano foi beatificado há 25 anos, após o Vaticano julgar que a cura inexplicável de um câncer de ovário teria sido obra de sua interseção. O caso ocorreu na Itália, com uma freira scalabriniana, no final da década de 1980 e início dos anos 1990.
