No ambiente requintado e feérico do antigo Bazar Central, que ficava na Avenida Farrapos, número 2840, em Porto Alegre, a família do então menino Guilherme Ely escolheu um possante Jipe, movido a pedal, para presenteá-lo no Natal de 1953.
O requinte da loja de médio porte estava nos sofisticados talheres de prata e aço inoxidável, nos aparelhos de chá, café e jantar de porcelana da Bohemia, na louça inglesa e na variedade dos vistosos brinquedos disponibilizados para os clientes.
O Jipe (Jeep em inglês) era produzido pela empresa Brinquedos Rossi, localizada na vizinhança do Bazar Central, no número 2422 da mesma avenida. O veículo de brinquedo tinha características militares, cor verde-escuro e possuía uma estrela branca desenhada no capô. A Segunda Guerra acabara oito anos antes e, certamente, o “jipinho” destacava-se pela imponência e elegância.
A Rossi também oferecia uma versão menor e mais leve do Jipe, a qual não possuía toldo, além de carrinhos de bebê, triciclos, patinetes, rema-remas e “baratinhas” de corrida.
Após a noite feliz daquele Natal, Guilherme, ainda franzino, não conseguiu pedalar o Jipe, que era muito pesado para sua pouca força. Toda a estrutura fora produzida com sólida madeira, incluindo as rodas, calotas e faróis (sem lentes ou luzes); acrescida do peso dos pedais, eixos, grade frontal, volante e armação do toldo, todos de metal.
Lastimavelmente, o Jipe pouco andou – era sempre empurrado por adultos. Mas, como compensação, o raro brinquedo permanece registrado nas muitas fotos dele obtidas quando ainda era novo.
Guilherme Ely, um nostálgico por vocação, guarda, com muito zelo, alguns brinquedos da sua infância. “Autinhos” então industrializados pelas brasileiras Metalma (Metalúrgica Matarazzo), Trol, Beija-Flor, Mapla, Estrela e por fábricas japonesas, como um táxi estilizado e um Buick Century conversível 1958.
O Jipe Rossi, com toldo majestoso e rodas com bandas brancas, ficou esquecido, por longo tempo, no fundo da garagem. Posteriormente, o brinquedo acabou sendo vendido por um valor simbólico.
Será que daqui a seis décadas as crianças que tiveram a sorte de ganhar um brinquedo pela passagem do dia de hoje lembrarão do presente recebido, como Guilherme recorda, com saudade, do seu Jipe ou de seus carrinhos? A responsabilidade talvez seja nossa, dos adultos. Viva a infância feliz!