É curioso, se você colocar o nome desse homem no Google, vai encontrar diversas referências, mas nenhum verbete exclusivo com a sua biografia. Se clicar em imagens, também não vai achar qualquer foto dele. É incrível, e injusto. Só não se pode dizer que ele foi totalmente esquecido porque existe uma longa rua com seu nome — rua que se inicia junto à Ponte do Guaíba e corre paralela à freeway entre a rodovia e os rios Guaíba e Gravataí, até a interseção com a Avenida dos Estados (BR-116) — e também, é claro, por conta do Plano de Melhoramentos e Embelezamento de Porto Alegre, feito em 1914, que foi coordenado por ele.
João Moreira Maciel nasceu em Santana do Livramento, estudou na Escola Politécnica de São Paulo, na qual graduou-se, em 1895, como engenheiro-geógrafo e, em 1899, como engenheiro-arquiteto. Foi diretor de obras da Intendência Municipal, ajudando a traçar o futuro da Capital.
Segundo a arquiteta e urbanista Célia Ferraz de Souza, autora do livro Plano Geral de Melhoramentos de Porto Alegre: o Plano que Orientou a Modernização da Cidade (Editora Armazém, 2010), Moreira Maciel saiu cedo do RS e foi estudar no Rio de Janeiro e, depois, em São Paulo, onde fez o curso superior. “Por ter sido o melhor aluno da turma, ele ganhou uma viagem à Europa para estudar: três meses na França, três meses na Itália e três meses na Alemanha e Áustria. Encontrei essa informação nas pesquisas para meu livro”, diz Célia.
Passado quase um século, ninguém anda em Porto Alegre sem passar pelas obras planejadas por ele: a Avenida Borges de Medeiros, a Ipiranga, a Perimetral, a Avenida Mauá, a Júlio de Castilhos. Até o Parque Farroupilha (projeto implementado em 1935 pelo urbanista francês Alfred Agache) e o aterro (menor do que aquele que acabou sendo feito) foram projetados e sugeridos por Moreira Maciel.
A iniciativa de planejar as mudanças começou na gestão do prefeito José Montaury (1858-1939), que governou a Capital entre 1897 e 1924, mas a abrangência do Plano de 1914, que não se restringia ao Centro Histórico, era tal, que as obras concebidas continuaram a ser realizadas nos governos posteriores.
O plano incluía o Cais do Porto (que já existia), avenidas como a Mauá e a Júlio de Castilhos, ruas perpendiculares a Voluntários da Pátria, a ligação da Alberto Bins com a Praça XV de Novembro e uma perimetral de “rio a rio”, além de que também previu a Avenida Farrapos e a Avenida Cascatinha, à qual deu o nome de Avenida Piratini. Antecipou, inclusive,
o Túnel da Conceição, quando se refere “ao estudo de vias subterrâneas que poriam em comunicação as faces da colina sobre que assenta a parte mais importante da Capital”, conforme consta no livro Porto Alegre – A Cidade e sua Formação (Gráfica e Editora Norma, 1985) , de Clóvis Silveira de Oliveira. “Analisando a posição desse profissional frente à realidade de sua época, concluiremos que ele foi um pioneiro no tratamento, reforma e ampliação da rede urbana. O seu grande mérito foi a tentativa primeira de uma visão global dos problemas da cidade”, escreveu Oliveira.