– Para quem não me conhece, eu sou o Gugu Gaiteiro. E para quem me conhece, eu também sou o Gugu Gaiteiro.
É assim que o pequeno Gustavo Bohn Kunst, cantor e gaiteiro de 11 anos, costuma se apresentar. Morador de São Paulo das Missões – município localizado no noroeste do Estado, perto da fronteira com a Argentina –, Gugu viralizou na web brasileira nas últimas semanas por conta de um vídeo intitulado Cepo de Madeira.
Na gravação, ele ensina uma brincadeira na qual raspa-se um fósforo e o encaixa dentro de um buraco de um pedaço de tronco de árvore. A seguir, ele martela um prego no buraco e produz um leve estouro. O vídeo foi publicado em outubro de 2016, mas foi difundido recentemente pela página do Facebook chamada South America Memes, proporcionando posteriormente diversos memes com o registro. Atualmente, o registro original tem cerca de 500 mil visualizações no YouTube.
Leia mais:
Patente, capivaras e "Despacito": veja outros vídeos de Gugu Gaiteiro
Vó Salvelina denuncia sumiço do carrinho do Marco Véio e Leandro Benica
VÍDEO: vencedor do "The Voice Kids", Thomas Machado grava clipe com Gaúcho da Fronteira
Segundo Gugu, ele aprendeu a brincadeira com seu pai, Milton Kunst.
– Meu pai me contou que brincava disso quando eles eram crianças. Era uma atração, já que antigamente não se tinha celular para ficar jogando. Eles passavam um tempo brincando com o cepo de madeira, botando a pólvora e batendo com o martelo. Aí dava um estouro. Nós resolvemos fazer um vídeo retratando isso. E virou um viral – explica Gugu em entrevista por telefone à Zero Hora.
Há quem se divirta com um humor inocentemente involuntário do vídeo assim como há quem se encante com o sotaque fronteiriço do garoto. Tendo gravado despretensiosamente para seu canal do YouTube – onde costuma postar registros de sua carreira como músico, intercalando com brincadeiras –, o pequeno gaiteiro não esperava que esse vídeo fosse virar um viral na internet.
– Tem três tipos de pessoas: há aquelas que levam para o duplo sentido e enxerga outras coisas. Tem aquelas que gostam muito do vídeo e aprovam. E tem aqueles que não gostam de nada. Mas o vídeo foi recebido muito bem – analisa.
Porém, há quem leve o vídeo de Gugu para o lado negativo:
– Às vezes dá aquela agonia: "Meu Deus, por que isso?". Fazem comentários ruins. Mas sempre tem aqueles que defendem, aí já espanta toda essa raiva.
Também há aqueles que tentam deturpar o vídeo, como frisa Milton.
– Ele é uma criança. Aos poucos estão aparecendo alguns vídeos que não são do nosso agrado. Coisas que não é de criança, que são muito pesadas. Temos pedido para retirarem. Podem acabar prejudicando a carreira dele – queixa-se o auxiliar de escritório.
De qualquer maneira, após a difusão do vídeo, Gugu passou a ser mais reconhecido na rua.
– Antes eu era só aquele guri que toca gaita. Agora sou aquele guri que toca gaita viral. Às vezes me veem e me chamam para comentar do cepo de madeira. "Ah, Gustavo, te conheço lá do cepo". "Gugu, é tu?". Eu digo sim. "Meu, tu que és o viral, quer tirar uma foto?". Daí a maioria das pessoas me conhece por causa desse viral – relata.
Tanto Gugu quanto seu pai tem a perspectiva de que o viral pode ser esquecido em breve.
– Meme em uma semana termina, mas a vida artística dele tem quatro anos – sublinha Milton.
Muito além do cepo
Com dois CDs e dois DVDs em sua trajetória, Gugu tem um carreira incipiente como cantor e gaiteiro. Ele toca o instrumento desde os oito anos, tendo aprendido com seu pai, mas atualmente está tendo aulas.
– Sempre via o meu pai tocando gaita e violão. Desde pequeno acompanhei a música gaúcha, ouvindo CDs. Sempre me interessei. Um dia, meu pai alugou uma gaita e viu que dali saía alguma coisa – lembra.
O repertório de Gugu é basicamente nativista:
– O que eu prefiro é a música gaúcha. Me identifico nela. Desde pequeno, assisto ao grupo Os Monarcas e sempre me inspirei neles.
A admiração de Gugu pelo grupo é tanta que ele participou do DVD de 45 anos dos Monarcas, no disco intitulado Os Novos Talentos, de 2016. Em seus dois álbuns, Gugu apresenta canções autorais.
– Eu me inspirei em músicas que gostava e tentei criar letras. São músicas nativistas aqui da região, que falam do meio ambiente, da lida campeira, do churrasco, de levar o gado, essas coisas. Sempre achei interessante esse tipo de letra. Daí eu botei a caneta no papel e criei uma melodia. É claro que isso teve ajuda dos meus pais também. Às vezes uma rima não fechava direito. Uma frase não fazia tanto sentido. Aí eles davam palpites – detalha o músico.
Gugu costuma apresentar-se em escolas, festas e em domingueiras. Além de atravessar o Mampituba para tocar em Santa Catarina, ele já fez show no Paraguai – foi para o país acompanhar o grupo de dança de seus pais e conseguiu uma deixa.
Em 2016, Gugu participou do Rodeio Crioulo Internacional de Vacaria, sendo destaque em reportagem da RBS TV. Para a apresentação, ele viajou 400 km acompanhado de seus pais. Eles dormiram em uma barraca em um espaço cedido por outro concorrente, Dudu Gaiteiro – outro prodígio do instrumento.
Gremista fanático, Gugu conheceu a Arena do Grêmio na semana retrasada e achou muito bonita. Quando não está tocando gaita, aproveita o final da infância.
– Jogo bola, desenho e leio. Faço lição de casa. Não pode viver só no mundo virtual – afirma.
Outros vídeos
Em seu canal do YouTube, com mais de 300 vídeos publicados, Gugu costuma não só divulgar suas performances musicais, mas também publica alguns registros de brincadeiras e curiosidades – como a explanação sobre uma patente.
Gugu também fez a sua versão de Despacito:
Ele também apresentou o repertório de seu último CD.
Segundo Milton, a página do cantor no site tinha 3 mil inscritos antes do viral. Após a propagação do Cepo de Madeira, o canal conta com cerca de 100 mil inscritos até o momento.