
Quartos individuais e duplos, espaço para refeições, piscina aquecida, sala de massagem, salão de beleza, academia e sala de cinema. Essa estrutura, que remete a um hotel sofisticado, pode ser encontrada em um residencial sênior de alto padrão de Porto Alegre, onde residem apenas pessoas com mais de 60 anos.
Espaços como esse, destinados a um público de alto poder aquisitivo, representam uma nova tendência no mercado das instituições de longa permanência.
O envelhecimento da população no Brasil e a consequente futura inversão da pirâmide etária são os principais fatores que impulsionam esses serviços de saúde, moraria, lazer e entretenimento voltados especificamente à terceira idade.
E os chamados “senior living de alto padrão” surgem justamente para atender essa demanda crescente. Conforme Daniel Giaccheri, vice-presidente do Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa), a implementação desse tipo de serviço no Brasil ainda é recente, mas o mercado já está muito bem consolidado nos Estados Unidos e na Europa:
— Existe essa necessidade de se ter um senior living de alto padrão para quem deseja, durante os anos dos cabelos prateados, opções como hotéis cinco estrelas com diferentes serviços. É algo que está cada vez mais exacerbado não só aqui no Rio Grande do Sul, mas em todo o Brasil — aponta Giaccheri, que também é sócio-fundador do Grupo São Pietro Hospitais e Clínicas, que administra o novo residencial Magno Três Figueiras São Pietro.

A experiência de quem utiliza
As pessoas que procuram essas estruturas buscam, além do conforto, interações sociais e um acompanhamento de sua saúde para que consigam viver bem por mais anos. É o caso de Irene Maria Stumpf, 69 anos, que atualmente é uma das 38 moradoras do Magno Três Figueiras São Pietro.
A aposentada, que atuava na prefeitura de Porto Alegre, reside desde outubro de 2024 no local. Ela conta que descobriu uma vértebra quebrada, decorrente de um câncer no sangue (mieloma múltiplo), e precisou passar por uma cirurgia.
Após a operação, decidiu se mudar para o residencial, onde deve permanecer até o final do tratamento contra a doença. Conforme Irene, a decisão levou em conta a comodidade e a praticidade. Entre os benefícios, cita os momentos de conversa com os outros moradores e as diferentes atividades ofertadas pelo espaço:
— Aqui é ótimo, porque tu tem toda a assistência, não se preocupa com nada. Eu morava sozinha e, se fosse voltar para meu apartamento, teria que ter uma pessoa para ficar comigo, toda aquela inconveniência. Se a pessoa não fosse, eu ficaria sozinha. Aqui, não tenho esse problema. E tem também atividades que fazemos, como fisioterapia, exercícios e aulas de arte.
O que o espaço oferece
Localizado no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre, o residencial Magno oferece suporte para pessoas na terceira idade de todos os perfis — desde aquelas que são totalmente independentes até as que estão acamadas por questões de saúde. Luciano Zuffo, sócio-fundador e médico do Grupo São Pietro Hospitais e Clínicas, explica que o espaço visa ofertar uma sensação de comunidade, afastando a ideia de hospital.
— Nós temos atividades em grupo todos os dias com a equipe multidisciplinar. Cada problema individual é trabalhado com cada pessoa. Outra questão é que nós temos um consultório aqui. Então, a pessoa marca a consulta e vai, não é o médico que vai no quarto — comenta.
O espaço conta com telemedicina e posto de enfermagem 24 horas, bem como tecnologias de segurança: cada morador conta com um sensor antiqueda e, ao saírem para passear com a família, recebem um GPS que pode ser acionado em caso de acidentes. Também não há restrição de horário para visitas de familiares.
A estrutura possui ainda salão de beleza, área de SPA com sala de massagem, piscina aquecida, cancha de bocha, sala de cinema, cobertura com horta e churrasqueira, academia e diferentes ambientes para convívio. Em todos os andares, há uma sala azul para atendimento em caso de emergência e uma lavanderia.
Acomodações adaptadas
Há quatro opções de acomodações, individuais e para casais. Algumas possuem sacadas ou acesso a áreas verdes. Os banheiros de todos os quartos são totalmente adaptados e contam com piso aquecido. Os moradores podem levar objetos e mobílias de casa, se assim preferirem — Irene, por exemplo, tem em seu quarto uma cadeira de balanço que era de seu avô materno.
— Estamos com um projeto para termos apresentações de teatro, de escolas de música. Porque é essa convivência que faz com que eles tenham interações com a sociedade e com o mundo lá fora, mesmo estando aqui dentro. É claro que tem todo um cuidado com a segurança, mas tentamos ao máximo fazer com que eles se sintam no lar deles, não dentro de um residencial — destaca Zuffo.
O valor varia de acordo com o tipo de acomodação, com o nível de cuidado que cada morador demanda e com os serviços incluídos em cada pacote. As suítes individuais, por exemplo, têm mensalidades a partir de R$ 12,8 mil.
O mercado das ILPIs
Em Porto Alegre, há 285 instituições de longa permanência para idosos (ILPIs), segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Entretanto, não há uma quantificação de quais dessas são consideradas de “alto padrão”.
O vice-presidente do Sindihospa afirma que o Magno foi o primeiro projeto concebido arquitetonicamente na Capital para ser um residencial de alto padrão — o local começou a receber residentes em maio de 2024. Enfatiza, contudo, que já existem outros residenciais em Porto Alegre e no restante do Rio Grande do Sul que oferecem serviços semelhantes aos seus moradores.
— É um mercado novo, mas temos uma responsabilidade muito grande para que isso tudo funcione, porque é algo que o nosso país e a nossa população precisam. Precisamos de lugares em que as pessoas se sintam confortáveis e que as famílias saibam que o seu ente querido vai ser feliz, vai ter um lugar apropriado para ter uma vida longa e feliz, com qualidade — ressalta.
Conforme o economista e professor da Universidade Feevale José Moura, também há um aumento na população de alta renda, o que impulsiona ainda mais a demanda por esse tipo de residencial.
Além disso, comenta que há muitos idosos independentes que decidem por conta própria a mudança para esses locais, onde podem usufruir de todos os serviços de saúde necessários e da convivência com outras pessoas da mesma geração.
— É uma tendência, porque cada vez mais as pessoas estão ficando mais velhas, mas com qualidade de vida. Hoje falamos muito mais em bem-estar nessa faixa etária. Mas é claro que precisa de dinheiro para se estar em um lugar bastante adequado — comenta o economista.
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