Maria da Graça Huff Carvalho, 73 anos, define seus dias como maravilhosos. O principal motivo: milhares de tampinhas plásticas coloridas que a aguardam todas as segundas e quartas-feiras no Instituto do Câncer Infantil, no bairro Santa Cecília, em Porto Alegre.
A aposentada passa os dois dias inteiros no local, em turnos de quatro horas, na companhia de outros quase 30 voluntários sob sua coordenação. As tampinhas vêm de doações da comunidade. Ao manuseá-las, os voluntários descartam outros itens misturados e separam para limpeza o que está muito sujo. Separadas por cor, são encaminhadas para venda, o que deve render em torno de R$ 50 mil ao instituto neste ano. A verba é repassada ao Núcleo de Atenção ao Paciente, que auxilia, em despesas diversas, pacientes e famílias atendidos no local.
— Adoro. Me sinto muito, muito bem. Além do benefício para as crianças, tem a minha satisfação pessoal. Ficar em casa não é o meu chão. Preciso do contato com a rua, com as pessoas. Preciso ter uma ocupação e gente para trocar ideias — justifica Maria da Graça.
A turma das tampinhas trabalha no subsolo, de avental e luvas. Se há muito volume de trabalho ou voluntário novo chegando, Maria da Graça ultrapassa as 16 horas semanais e acaba indo ao instituto mais um dia da semana para dar conta das tarefas.
— Passa muito rápido o tempo — conta.
Professora de matemática das redes pública e privada, ela parou de trabalhar há 20 anos. O voluntariado já soma 16 anos, todos dedicados ao mesmo endereço. Na convivência com os pequenos pacientes em tratamento oncológico, encontrou a substituição perfeita para a convivência com crianças que tanto lhe fazia falta dos tempos de sala de aula.
— Não sou muito ligada no trabalho doméstico, tem gente que adora. Se não tivesse o trabalho aqui, me sentiria muito triste — revela.
Com frequência, especialistas recomendam o voluntariado para quem está aposentado. É uma forma de se ocupar com uma atividade gratificante e de manter, ou restabelecer, relações sociais. A atividade pode ser especialmente proveitosa para quem acaba de encerrar a carreira e está tendo dificuldades para preencher os dias, que passaram a parecer longos e tediosos demais.
Para a psicóloga Lise Ortiz, consultora da Parceiros Voluntários, o voluntariado na terceira idade pode ser visto como medida de promoção de saúde.
— O trabalho voluntário ajuda em um envelhecimento ativo, minimizando o isolamento social que é tão comum. Idosos vão tendendo a se isolar mais. Pode-se dizer que ajuda no bem-estar e na qualidade de vida — comenta Lise.
A psicóloga destaca o que é importante considerar antes de começar. O voluntariado exige comprometimento, não é atividade para se encaixar em eventuais horas livres da semana. Deve-se avaliar bem o perfil de instituição que se quer — e o que não se quer — para evitar desistências logo ali adiante.
— É a pessoa que tem que escolher. O trabalho tem que fazer sentido para ela. Tem que pensar: "Acho que não sirvo para trabalhar com esse público", "tive câncer e não quero trabalhar com isso". Muitas das desistências são por problema de adaptação e perfil — diz Lise.
O que considerar sobre o trabalho voluntário
- É preciso reservar dias e horários específicos para o voluntariado. Não é algo para fazer no tempo livre. Você estará assumindo um compromisso com um grupo ou instituição, que contará com a sua presença naqueles períodos.
- Encare o trabalho voluntário como um projeto a longo prazo, a menos que você esteja se comprometendo apenas com atividades pontuais, bem específicas, como a organização de um evento.
- Procure oportunidades em áreas que tenham a ver com seus gostos e habilidades.
- A atividade precisa fazer sentido para você. Não aceite qualquer tarefa que lhe for oferecida por constrangimento de negá-la.
- Considere a distância de sua casa até a instituição, como fará o deslocamento e a estrutura disponível no local.
- Comece com poucas horas semanais e, se gostar da atividade, aumente a carga horária.