O temperamento de Luiz Carlos Cirne Lima de Lorenzi é um fator marcante em sua carreira, provavelmente mais para o mal do que para o bem. Embora autêntica, a personalidade do gaúcho lhe rendeu o apelido de "Lisca Doido" lhe rende desconfianças que o atrapalham na hora de avaliar suas grandes qualidades como técnico e seu conhecimento de futebol. Pois foi com a veemência com que reclama de arbitragem, que vibra com vitórias ou sobe em alambrados para festejar com torcedores que o gaúcho, treinador do América-MG, vociferou contra a realização imediata da Copa do Brasil, e com bons argumentos.
Se é verdade que a pandemia tem nos estádios de futebol locais suficientemente seguros para que a atividade continue, é hora de se reestudar as competições. Conforme Lisca, os certames regionais, com pequenos deslocamentos e com maior controle dos clubes sobre seus elencos, são competições possíveis de um controle sanitário. Está correto. Já a Copa do Brasil, na qual as viagens envolvem muitos times visitando regiões opostas do país, naquilo que um dia se chamou de "integração nacional", é contraindicada. Novamente ele está certo.
Um dos maiores problemas está no serviço aéreo, onde não existe mais a limitação de passageiros nos voos, na maioria lotados. Também cheios estão os aeroportos. Enquanto os grandes clubes podem se dar ao luxo de usar aviões fretados nas suas viagens, a imensa maioria estará expondo de norte a sul, leste a oeste seus jogadores.
A geografia brasileira da covid-19 coloca alguns locais como perigosíssimos para contaminação, sem falar na saturação nacional do sistema hospitalar. A chance de contaminação está multiplicada para quem atravessa o país em voos de carreira, e a possibilidade de atendimento hospitalar é reduzida. Lisca merece ser ouvido e o assunto, no mínimo, merece reconsideração.