Na terça-feira, fui acordado com café na cama. Quer dizer, quase isso. Pouco depois das 7h da manhã, ouvi o barulho da maçaneta girando. Achei que era a Jaque, minha esposa, entrando ou saindo do quarto. Ou que eu estava sonhando. A noite havia sido agitada pelas preocupações que, pela manhã, se tornam pequenas e insignificantes. Não era sonho. Nem a Jaque. Era a Maya. Nessa semana, ela aprendeu a abrir portas. Cresceu o suficiente para alcançar mais essa conquista. Parece algo banal, corriqueiro. Para mim, teve um significado especial, talvez pela experiência com minhas duas filhas mais velhas. Não lembro quando elas abriram uma porta pela primeira vez sozinhas. Na época, nem imaginava o que isso, simbolicamente, significava. Agora, a Maya, teoricamente, já pode sair. Ela nem sabe disso, ainda bem. Mas em breve aprenderá. Assim como aprenderá a usar as chaves, com as quais já brinca.
Maya entrou no meu quarto e disse: “Papai, papai, sala”. Era um convite. E eu, meio acordado e meio dormindo, sorri. Foi quando senti algo sendo colocado na minha boca. Me assustei. Era um pedaço de pão, já meio mordido e amassado. Obviamente, engoli e agradeci. Maya fez o trajeto entre a cozinha e o meu quarto mais umas três vezes, sempre trazendo um pedaço novo nas mãos, esticando-o para dentro da minha boca e deixando os farelos pelo caminho, como na história de João e Maria. Quando, um dia, ela abrir a porta e for para o mundo, esse caminho de afeto estará sempre aqui, marcado nas lembranças. Comecei meu dia com uma boa dose de carboidratos. E de alegria.
Um pai deveria ficar feliz quando uma filha aprende a abrir portas. É para isso, no fim das contas, que as educamos. Mal sabem elas que, cada vez que saem, a gente fica torcendo para que a porta se abra novamente. E elas entrem. Pensei nisso quando, mais tarde, vi a Maya se esticando para abrir a porta do banheiro. É estranho como, às vezes, acontecimentos tão corriqueiros despertam emoções inesperadas.
Quero que a Maya abra as portas que a vida oferece. As certas, que ela saberá escolher. Mas que jamais se esqueça de voltar. Para que sejam abertas, para dentro e para fora, as portas da casa precisam estar destrancadas. E essa é, também, a missão de um pai.