Há um fato igualmente grave, ocorrido logo após a fala de Abraham Weintraub que defendeu a prisão dos "vagabundos" do STF durante uma reunião ministerial em Brasília: o silêncio que se seguiu. Pelo que as imagens mostraram, nenhum dos ali presentes esboçou qualquer reação ao que disse o ministro da Educação, nem mesmo o então colega da Justiça Sérgio Moro, que certamente sabia das implicações legais do ataque à Suprema Corte.
Logo, é possível afirmar que esse tipo formulação não é obra de um integrante isolado do governo Bolsonaro. É um tipo de conduta, bravateira e destemperada, que não encontra qualquer objeção interna. Imaginemos que um ministro tivesse feito ali um discurso enérgico, por exemplo, contra a cloroquina. Duvido conseguisse passar da segunda frase.
Dias depois, Weintraub ainda está no cargo. E não recebeu qualquer contraditório público do presidente e de seus colegas, o que configura nitidamente uma provocação extra ao STF. Mas o mais grave, infinitamente mais grave, é que o desejo de Weintraub encontra eco em uma fatia considerável da população brasileira. Esse mesmo governo, que verbaliza absurdos e aplaude incitações ao conflito, é considerado bom ou ótimo por cerca de 25% dos brasileiros, fatia igual ao que avalia a gestão Bolsonaro como regular. Mais útil do que tentarmos entender onde estamos seria nos perguntarmos como chegamos até aqui.