O jornalista Caio Cigana colabora com o colunista Tulio Milman, titular deste espaço.
Pode-se ser simpatizante e eleitor de Jair Bolsonaro e não gostar do PT. É possível ter votado em Fernando Haddad, ser lulista e considerar o atual governo um retrocesso. Mas é preciso estabelecer um marco separatório para que a disputa não ingresse de forma definitiva no terreno da bestialidade. O chão pantanoso da barbárie foi pisado na terça-feira (11) na CPI das Fake News, quando um depoente disparou acusações falsas contra uma jornalista da Folha de S.Paulo. Poucas horas depois, foi provado que não eram verdadeiras.
O grave é que, na própria CPI e na arena sem regras das redes sociais, as leviandades, que extrapolam o machismo e a misoginia, foram repetidas e multiplicadas por deputados governistas, como Eduardo Bolsonaro. As agressões não cessaram sequer com a comprovação de que as afirmações eram fraudulentas.
O país chegou ao ponto em que fustigar o suposto adversário da forma mais sórdida possível passou, pela ótica de alguns, a ser justificável, desde que seja pela causa e pela visão de mundo que defendem. E, com isso, a ordem é propagar ao máximo possível as barbaridades. Pouco importa se são verdadeiras ou não.
A perda de noção também aparece do outro lado da trincheira, como mostraram os ataques machistas e misóginos à atriz Regina Duarte, após ela se aproximar do governo e assumir a Secretaria da Cultura. Da mesma forma, houve quem relativizasse os insultos. Afinal, ela seria uma fascista. As críticas perderam o espaço para a pura e simples ofensa. Resta esperar que, um dia, os argumento retomem o lugar da difamação sem freios na disputa política e a civilização vença a selvageria.