Se, no alvorecer de 2013, uma seleção de mentes iluminadas do Brasil fosse convidada para escrever previsões, armazenadas em uma cápsula do tempo, sobre o que aconteceria com o país até o final da década, provavelmente estaria agora passando vergonha. À época, vivia-se o pleno emprego.
O mercado interno seguia forte, apesar de a atividade começar a desacelerar e surgirem sinais de alerta para o desequilíbrio das contas públicas. Até o início daquele ano, porém, uma das grandes preocupações nacionais, com uma pitada de galhofa, era a inflação do tomate. Jair Bolsonaro era apenas um obscuro e folclórico deputado federal.
No início de 2013, um grupelho começou em Porto Alegre a protestar contra o aumento de R$ 0,20 na passagem de ônibus. As manifestações chegaram a outras capitais. Eram os atos de junho, que em seguida incorporaram outras pautas: saúde, educação, combate à corrupção, queixas aos gastos exagerados e superfaturados com estádios da Copa. Apareceram grupos isolados pedindo intervenção militar. Abria-se a caixa de pandora.
A polarização recrudesceu nas eleições de 2014 e a Lava-Jato desnudou um megaesquema de corrupção em torno da Petrobras. Impeachment, recessão, delação da JBS, greve dos caminhoneiros, barragens rompidas, prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, facada. Bolsonaro é eleito presidente. Heróis são inflados e murcham. Incluindo 2019, serão seis anos de economia parada ou andando para trás. Surgiram mais seis milhões de desempregados. No capítulo mais recente, os celulares das figuras mais proeminentes da República são invadidos. Diálogos comprometedores vêm a público. Conspiração russa?
Um roteiro hollywoodiano de tirar o fôlego com suspense, intriga, drama e comédia. Mas aconteceu. Como em um acidente aéreo, em regra causado por uma sucessão de problemas e falhas. Custou bem mais caro do que R$ 0,20. Nunca na história deste país foi possível imaginar que acabaria nisso daí.