
No fundo, no fundo, eu queria poder viajar. Nada de Salgado Filho ou rodoviária ou freeway. Eu queria poder viajar em Porto Alegre. Andar pela pracinha perto de casa, caminhar por aí, sentar em um banco e olhar para o nada. Deitar na grama e dormir. Dar uma banda a pé no meio da noite, no silêncio de onde nascem as ideias e os devaneios.
Roubaram a minha cidade. Ninguém mais vê a nuança de paredes, as esquinas esquisitas, ninguém mais pode assistir em paz ao sol nascer depois da festa.
Não é só uma questão romântica, intangível. Os reflexos estão nas empresas, nas relações entre as pessoas. Abatumamos. Porto Alegre é cada vez menos criativa. Porque, para criar, a gente precisa de liberdade. Não apenas da econômica, mas da mental. Viajar sem sair do lugar.
Outro dia, eu deixava a minha filha na escola. Ela desceu do carro. Alguns passos a separavam da porta de entrada. Entra logo, entra logo, entra logo. Era o que eu pedia em voz baixa, contraído. Uma prece, um pedido de bênção.
Em vez disso, eu deveria estar pensando em outras coisas. Talvez me emocionar ao vê-la grande e independente. Talvez, relaxado, ter a ideia de um texto poético e lindo. Mas é este o texto que eu consegui fazer. Ele diz: obrigado por, mais um dia, ver minha família, meus amigos e as pessoas que eu quero bem chegarem vivas em casa. Obrigado por você, que me lê agora, estar vivo.
Acontece com todos nós. Em vez da disrupção criativa, da conexão com a primavera que se aproxima, a gente sente um medo que se transforma em armadura. Empacamos nossa expectativa no nível da sobrevivência. Desaprendemos a voar. Desconfiamos e tememos. Queremos punição e vingança.
Eu só queria viajar em Porto Alegre. Andar com a janela do carro aberta, sentar na calçada. Fazer coisas que as pessoas normais fazem. Não é nostalgia. É fé no futuro. Em vez de tensionar os ombros e aconselhar minha filha a ter cuidado com o celular, abrir um sorriso e desejar: te diverte.
Eu quero a minha cidade de volta. Uma cidade que eu nunca tive. Mas que existe, por aí.
Lábia
As escolhas revelam uma visão.Duas das secretarias mais técnicas do governo Sartori estão nas mãos de políticos. Fazenda, Giovani Feltes, e Segurança, Cezar Schirmer.
Tempo técnico
Giovani Feltes anda feliz. Os holofotes saíram da Fazenda e foram para a Segurança.
Hora H
Definidas as regras e a data. A RBS TV realiza no dia 29 de setembro, depois de Velho Chico, o debate com os candidatos à prefeitura da Capital. Haverá sorteio de temas e perguntas diretas entre os debatedores.
Antes de entrar no ar, todos ficarão em uma mesma sala. Civilizadamente, como tem sido até agora.
Degola
A cabeça de Fábio Medina Osório estava cortada havia várias semanas. Como ele não pediu para sair...
TRIBUNA
Aqui, o leitor tem a palavra final.
Sobre a defesa da Cettraliq, empresa acusada de sujar a água de Porto Alegre, publicada pelo Informe Especial:
Esse projeto de comentarista, se quisesse mesmo respeito, deveria cumprir com o verdadeiro papel do jornalismo e investigar quais eram os químicos que contaminaram a água.
Ronaldo Castro
Tchê, o pior é que é bem assim. O poder público não faz nada e joga a culpa nos outros.
Vaz
Sobre a defesa do combate prioritário aos homicídios no Rio Grande do Sul:Discordo veementemente de sua afirmação de que "o combate ao tráfico de drogas está condenado a bater em um teto baixo" (sic). Como promotora de Justiça (...) asseguro-lhe que o tráfico de drogas é a raiz dos tantos homicídios (...)
Aline Xavier
Sobre a opinião de que, antes de destruir ou elogiar o novo secretário de Segurança, é preciso deixá-lo trabalhar.Ao abrir a Zero Hora, deparei com o termo “destruí-lo”. (...) Podia ter usado o termo criticá-lo, que seria um verbo à altura das pessoas normais e sensíveis. Agora, “destruí-lo” realmente é a única maneira que vocês do PT conseguem ver o outro lado.
Nestor Jose Frare