O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Depois de as estruturas terem sido instaladas em janeiro, as primeiras moradias temporárias do governo do Estado em Porto Alegre têm previsão de entrega aos desabrigados da enchente para a próxima semana. Responsável pelas intervenções na infraestrutura da área no bairro Sarandi, o secretário de Obras da Capital, André Flores, garante a entrega das 80 casas até a metade do mês de maio.
A situação no local, entretanto, torna difícil acreditar que a promessa se concretize. A coluna visitou a área nesta quinta-feira (1º) e constatou um verdadeiro canteiro de obras, com materiais de construção espalhados, máquinas paradas, serviços não finalizados — e nenhum trabalhador.
Quem chega no terreno localizado na rua Vida Alegre vê de longe os tapumes de zinco típicos de áreas de construção cercando o espaço. Também dá de cara com as 80 moradias temporárias: têm 27 metros quadrados, em formato de contêiner, e paredes de concreto. Com exceção de um pequeno trecho em que há brita pelo chão, ainda faltam os acessos pavimentados para o terreno e todas as casas. O que se vê atualmente é mato e barro.
Os fios que adentram a área pelos postes ainda não alimentam nenhuma das moradias, com exceção da que é utilizada pela Brigada Militar para os oficiais que fazem a ronda do local. Além disso, há relatos de quem nem mesmo a iluminação dos postes na rua está funcionando adequadamente. É a mesma situação com a água, que só recentemente foi disponibilizada no banheiro para os policiais não mais utilizarem a estrutura do condomínio do outro lado da rua.
No interior das casas, é possível ver a mobília que estará à disposição das famílias — cama de casal, beliche, guarda-roupas, sofá, geladeira e fogão, além do banheiro. Em algumas unidades, os móveis não estão instalados e outros continuam na embalagem.
Durante a visita da coluna, quatro pessoas que estão abrigadas no Centro Humanitário de Acolhimento Vida foram ao local conferir suas novas casas. Segundo eles, a promessa feita no abrigo é de que todos os moradores serão realocados para as moradias temporárias já na segunda-feira (5), em um evento de inauguração que ainda não foi oficialmente anunciado. O quarteto, depois de observar a situação, deixou o local completamente cético.
De acordo com o secretário André Flores, a primeira entrega deverá ocorrer até sexta-feira (9).
Responsabilidades
As 80 moradias temporárias são módulos habitacionais transportáveis e que já chegam prontos da fábrica ao local de instalação. São do mesmo estilo das instaladas em cidades do Vale do Taquari. O governo estadual adquire as estruturas, que são incorporadas ao acervo do Estado — a mobília é doada aos moradores.
A previsão do vice-governador Gabriel Souza é, até o final do mês, fechar os Centros Humanitários de Acolhimento em Canoas e em Porto Alegre, a partir do realojamento das famílias dos abrigos para as moradias temporárias. Até esta quarta-feira (30), 204 pessoas estavam no abrigo estadual de Canoas e 136 em Porto Alegre.
No terreno onde são instaladas as casas, cabe às prefeituras realizar obras de infraestrutura e garantir saneamento, ruas, paisagismo e cercamento da área. A previsão divulgada pelo Estado em janeiro era de que as 80 unidades fossem entregues até o final de março.
Agora, o secretário André Flores confirmou que parte das moradias será entregue na próxima semana e o restante na seguinte. Além disso, há previsão de que um cronograma completo dessa entrega seja divulgado nesta sexta-feira (2).
Em contato com a coluna, o responsável pelas obras de Porto Alegre recebeu com surpresa a informação de que não havia trabalhadores no local nesta quinta-feira. A previsão é de que os meios-fios estivessem sendo instalados para posteriormente aplicar uma camada de asfalto nos acessos, diretamente sobre o solo.
Segundo o secretário, a parte das casas onde ainda há caixas de esgoto à mostra, máquinas paradas e outros elementos de obra serão entregues na segunda leva de moradias. As que estarão disponíveis na próxima semana dependem apenas do acesso e da instalação elétrica que será concluída neste final de semana.
— Para casas permanentes o padrão de acabamento seria outro, mas são casas temporárias. Estamos fazendo com velocidade para entregar com habitabilidade — reforça André Flores, que confia na entrega das moradias no prazo prometido.
Canoas avança
Em Canoas, 58 moradias temporárias do mesmo modelo estão sendo preparadas. Segundo a prefeitura da cidade, as ligações externas de energia elétrica, realizada pela concessionária RGE, além das conexões de água e esgoto, executadas pela Corsan, estão concluídas.
O que ainda falta são as ligações elétricas internas das unidades, com previsão de conclusão até a metade do mês. Na próxima segunda-feira (5), há previsão de início das obras de cercamento e arborização do espaço, que fica na rua Dona Castorina Lima da Silveira, no bairro Estância Velha.