
Na casa 10 do loteamento que abriga as moradias provisórias em Cruzeiro do Sul mora a dona de casa Maria Salete Farias, com o marido e dois cachorros de estimação que dão o alerta quando um estranho se aproxima. Ela é mais uma das vítimas da enchente do Rio Taquari que olha para o futuro com esperança depois de ter conseguido sair dos alojamentos onde passou quase um ano.
Na parede da casa que chama de contêiner, Maria Salete tem um quadro com a foto dela e do governador Eduardo Leite e um terço branco sobre a moldura. Ela se gaba que Leite sempre que visita o loteamento diz que a 10 é a casa dele e entra para tomar um cafezinho.
— Aqui está sendo maravilhoso morar. Eu consigo me sentir um pouco dentro do meu lar. Me vejo fazendo comida no meu fogão, lavando a minha louça, arrumando a minha cozinha, lavando a minha roupa — elogia.
Evangélica, Maria Salete espera continuar morando no Novo Passo de Estrela e diz que tem muita fé em Deus.
— A minha igreja, a Aliança, vai ter um templo aqui. Os pastores já vieram aqui e confirmaram que teremos onde rezar.
Maria Salete morava no Bairro Bom Fim, em Cruzeiro do Sul. Em novembro de 2023, a água invadiu sua casa e ela precisou passar três dias em um abrigo. Em maio, achou que ocorreria o mesmo, mas estava enganada.
— Essa enchente de maio levou minha casa toda embora. Não sobrou nada. Estive lá dias depois para ver onde eu morava e não reconheci o lugar. Parece que torceram os terrenos. Só achei minha casa porque tinha um marco do portão.
A água que levou a casa de Salete foi a do Arroio Castelhano, empurrado pelo Taquari. Ela se emociona ao contar o que passou:
— Passei uns quatro ou cinco meses lá perto do CTG São Rafael. Passei o inverno todo lá. Minha casinha era só tapada com uma lona. Minha cama ficava no chão. Foi muito sacrifício. Depois eu passei os outros meses no abrigo do ginásio 15 de Novembro. A gente passou por uma situação desumana — detalha.
Vivendo numa parte alta de Cruzeiro do Sul, onde não existe risco de alagamento, Maria Salete espera que a tragédia não se repita para outras pessoas:
— Que não se repita na minha vida nem na de ninguém. Muitos perderam familiares. Eu perdi amigas. Hoje a gente para pra pensar e parece que a ficha ainda não caiu.