
Dez meses depois da grande enchente, quase nada mudou no Rio Grande do Sul. A Defesa Civil emitiu dois alertas que não davam ideia do que veio a acontecer em Porto Alegre e Região Metropolitana no final da tarde.
O primeiro, das 13h, dizia: "Temporais com chuva e vento fortes, raios, granizo e alagamentos pontuais. Val. Por 3h. Emerg. Ligue 190/193". Como nada aconteceu, nem o governo estadual desmarcou o evento programado para o final da tarde, ao ar livre, no Morro de Santa Tereza. Às 16h25min, a Defesa Civil mandou novo alerta: "Chuva e vento intensos, raios, granizo e alagamentos. Val. Por 3h. Emerg. Ligue 190/193".
Demorou algum tempo até que o Piratini cancelasse o evento no Morro de Santa Tereza, que teria a presença do governador Eduardo Leite. Os moradores do entorno, que esperavam pelo anúncio da revitalização da área, com mais segurança, tiveram de correr à procura de abrigo.
Pelo tamanho do temporal, não seria o caso de um aviso mais enfático? Daqueles que trancam a tela do celular, para ter certeza de que a pessoa leu?
A ventania chegou derrubando árvores e arrancando telhas e placas. Diz a CEEE Equatorial que foram registradas rajadas de 111 km/h. A chuva ainda não tinha chegado a alguns bairros e em diferentes regiões da Capital a população reclamava de falta de luz. Será que nada foi feito nos meses de estiagem?
Minutos depois do começo da bomba d’água, Porto Alegre já tinha dezenas de ruas alagadas. Não, não foi o Guaíba que transbordou. Foram as bocas de lobo (muitas entupidas de lixo) que não deram conta. E os bueiros. A água que voltava pelos bueiros assustou moradores traumatizados com a enchente de maio.
A José de Alencar, em frente ao Hospital Mãe de Deus, virou rio. Preocupação entre os funcionários que em maio viram o hospital ser alagado e ajudaram a transferir pacientes para outras instituições. Na Zona Norte, a mesma coisa. Pânico no Humaitá, na Vila Farrapos, no Sarandi. Felizmente, a água baixou rápido, mas às 19h veio outro alerta da Defesa Civil: “Chuva e vento fortes, raios, granizo e alagamentos pontuais. Val. Até 22h. Emerg. Ligue 190/193”.
Ainda em meio ao temporal, o Dmae avisou que duas estações de tratamento de água, a Moinhos de Vento e a São João, tinham parado por falta de energia elétrica. Gerador que é bom, nada. Linha de contingência, também não.
Se uma chuva prevista pela meteorologia criou esse cenário de caos, com as ruas congestionadas até agora (são 19h30min quando escrevo estas linhas), o que podemos esperar se acontecer qualquer coisa parecida com maio de 2024?
O prefeito Sebastião Melo disse que se chover de novo naqueles níveis, vai alagar outra vez. Porque nenhuma obra de porte foi feita. O dique do Sarandi, que a prefeitura começou a consertar a e pretendia aumentar a altura, esbarrou nas moradias irregulares, que a Justiça não permitiu remover porque aos moradores foi oferecido um valor de aluguel social considerado insuficiente.