
Criticada pela oposição e até por aliados do governo, a ida antecipada da primeira-dama Janja da Silva para o Japão deu ao presidente Lula uma oportunidade singular de conversar na longa viagem com quatro dos mais influentes personagens do Congresso Nacional. É comum Lula convidar os presidentes da Câmara e do Senado para viagens internacionais, um sinal para os estrangeiros de que existe harmonia entre os poderes.
Só que, na viagem para o Japão, Lula convidou os presidentes da Câmara, Hugo Motta (PP-PB), do Senado, David Alcolumbre (União Brasil-AP), e os ex-presidentes Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (União Brasil-MG). São todos expoentes do Centrão, esse agrupamento político que dá as cartas no Legislativo e multiplica seu poder no Executivo.
Nenhum dos integrantes da comitiva influencia na atração de investimentos japoneses nem na exportação de produtos para o país ou para o Vietnã, mas seu poder no território brasileiro é incontestável, ainda mais agora que PP e União Brasil estão juntando forças para ter a maior bancada na Câmara, com 109 deputados, por meio de uma federação.
Se de um lado podem pressionar o governo para ampliar seus espaços de poder, de outro são decisivos para aprovar — ou mandar para as calendas — o projeto de anistia dos condenados pelos atos violentos de 8 de janeiro e, de forma mais ampla, dos envolvidos na organização da fracassada tentativa de golpe.
É esse o temor do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos seus aliados que apostam todas as fichas na anistia, chegando a compará-la, indevidamente, com o que ocorreu nos estertores do regime militar, quando um acordão permitiu o perdão recíproco.