
No dia 5 de março, a esposa de Eduardo Bolsonaro, Heloísa, postou no Instagram uma série de fotos dos filhos Georgia e Jair Henrique nos Estados Unidos, e na legenda escreveu apenas “Jeremias 29:11”. Esse trecho da Bíblia diz: "'Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês', diz o Senhor, 'planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro'".
No dia 6, mais fotos dela, dos filhos e de Eduardo nos Estados Unidos. O conjunto sugere que ali a decisão já estava tomada de morar no país de Donald Trump, mas só nesta terça-feira (18) Eduardo anunciou o pedido de licença e informou que já está morando nos Estados Unidos.
A versão oficial é de que deixou o Brasil porque está sendo perseguido pelo ministro Alexandre de Moraes e tem medo de ser preso ou de ter o passaporte retido. A pergunta é: por que seria, se não foi nem indiciado no inquérito sobre a tentativa de golpe? E se não foi é porque a investigação não achou nada de concreto contra ele.
De concreto havia um pedido protocolado pelo líder da bancada do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), no Supremo Tribunal Federal em 27 de fevereiro, para que o passaporte de Eduardo fosse retido. Moraes fez o de praxe: encaminhou o pedido à Procuradoria-Geral da República. No documento, o PT argumenta que o filho "Zero Três" de Jair Bolsonaro tem ido aos Estados Unidos para articular a apresentação de um projeto de lei para constranger Moraes.
Ou seja, Eduardo fugiu para os Estados Unidos, como fez o pai no final de dezembro de 2022, para posar de vítima. Lembremos que, quando viajou, Eduardo era o nome do PL para ocupar a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. A escolha deveria ter sido sacramentada nesta segunda-feira (17), mas estranhamente não foi.
A jornalista Natuza Nery deu uma pista do que pode ter sido o verdadeiro motivo do pedido de licença: a decisão do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, de não indicar Eduardo. Essa versão, de que ele se licenciou porque não teria como explicar a exclusão, corre nos bastidores do partido, mas Costa Neto nega.
Eduardo sugeriu que a vaga seja ocupada pelo deputado gaúcho Luciano Zucco, queridinho de Bolsonaro, e que esteve com ele na manifestação de domingo em Copacabana.
Sem mandato, Eduardo Bolsonaro será um cidadão brasileiro fortemente ligado a Steve Bannon e outros expoentes da direita americana trabalhando contra o ministro Alexandre de Moraes e vendendo nas redes sociais e nos encontros presenciais uma imagem distorcida do que ocorre no Brasil.
Melhor que faça isso como pessoa física do que como presidente da Comissão de Relações Exteriores, o que poderia criar constrangimentos diplomáticos e mais problemas para o pai, que deverá se tornar réu no Supremo Tribunal Federal nos próximos dias.
Para quem não lembra, o sonho de Eduardo Bolsonaro era ser nomeado embaixador do Brasil nos Estados Unidos no governo do pai, o que causou alvoroço no Itamaraty e entre os aliados de Jair Bolsonaro. As restrições iam da falta de fluência em inglês ao despreparo para as relações internacionais. Foi em meio a um embate desnecessário com a China, por exemplo, que o então vice-presidente Hamilton Mourão o chamou de "Bananinha" e o apelidou colou.