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O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Dois vereadores de Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, protagonizaram uma troca de ofensas na tribuna da Câmara Municipal, durante a sessão da segunda-feira (10). Leandro Ferreira (PT) e Julio Cézar Doze (Podemos) levantaram acusações um contra o outro e resgataram processo entre os dois movido em 2020 (veja o vídeo abaixo).
O embate aconteceu já no final dos trabalhos na Câmara, quando o petista iniciou o assunto afirmando "não ter por que fugir", antes de disparar as ofensas contra o colega, que é sargento da reserva do Exército.
— Contra o adversário falastrão, fanfarrão, conversador e aloprado, que vê coisa errada em todo mundo, eu já ganhei uma batalha no ringue desse covarde, desse moleque, arruaceiro, o senhor Julio Doze — começou Ferreira.
Por cerca de cinco minutos, o vereador do PT criticou o passado do parlamentar do Podemos, afirmando que Doze acumula problemas nos espaços em que trabalhou, e encerrou cobrando o militar para que pague o que deve na Justiça, em um processo movido pelo próprio Ferreira em 2020 — Julio César Doze foi condenado a pagar R$ 3,5 mil ao petista por danos morais.
— Que arauto da moralidade é o senhor. Onde quer que vá, teve lá numa prefeitura, a sua passagem por lá foi indigesta. Por falar em processo, me paga, velhaco, o que me deve, no processo da Justiça. Aproveita e me paga, velhaco, que eu vou doar para a Aspa (Associação Santanense de Proteção aos Animais), ou qualquer outra entidade. Inútil. Vai ter que pagar. Aproveita e me paga, velhaco, isso que o senhor é. Porque nada mais do que isso cabe para a pessoa abjeta, indigesta igual ao senhor.
Relacionamento pregresso
Passados 15 minutos e a manifestação de outros dois vereadores, foi a vez de Julio Doze usar a tribuna, e responder Ferreira. O sargento da reserva disse que não tem nenhum apontamento no Tribunal de Contas contra as suas gestões como secretário em diversas pastas na prefeitura de Cerro Grande do Sul.
— Tu é desinformado, mal-intencionado e mentiroso. Tu tá falando com um militar, continua criminoso, vou te colocar no devido lugar. Você é mentiroso as pessoas precisam saber. O senhor mente descaradamente.
Doze seguiu também com ofensas, acusando o vereador Ferreira de envolvimento em casos ilícitos, citando supostas fraudes na fila do Minha Casa Minha Vida. O militar disse que levou o caso via notícia-crime para a Polícia Federal, e explicou o processo envolvendo os dois parlamentares:
— Sobre o processo que tu me ganhou, tu disseste que eu sou um velhaco, né. Sabe por que perdi o processo pra ele? Ele disse nesta tribuna aqui que eu deveria ter morrido. Aí a namorada dele me procurou, tava com um pouco de raiva dele e ela era bonita. E eu te chamei de corno porque tu é corno, e gostei do que fiz, e aí tive de te pagar o processo. Lembranças pra ela. Sei que tu tá magoado e isso dói pra caramba, peço desculpa à comunidade por ter de ouvir isso.
Pedidos de desculpas
Na sessão desta terça-feira (11), os dois vereadores leram notas com pedidos de desculpas pelas manifestações:
Leandro Ferreira: "Na sessão supracitada, entendo que me excedi na minha fala no uso do grande expediente quando tumultuei a sessão e extrapolei as normas do Regimento Interno. Além disso, compreendo que situações externas não devem interferir no mandato legislativo. Como representante do povo, tenho o dever de zelar pela integridade, transparência e respeito à sociedade, promovendo debates construtivos e exercendo minhas funções de forma responsável e digna. Atitudes que contrariam esses valores devem ser repudiadas e não podem ser normalizadas. Desta forma, me coloco à disposição da comunidade para esclarecer quaisquer fatos inerentes ao dia de ontem e esclareço que não possuo nada que desabone minha conduta, minha trajetória de vida, sendo possível, inclusive, que a comunidade pesquise nos órgãos judiciais competentes. Por último, ressalto meu repúdio à minha fala no grande expediente de ontem (dia 10) e, novamente, peço desculpas à comunidade e aos meus pares na Câmara de Vereadores. Ressalto que continuarei trabalhando em prol da comunidade santanense, como venho fazendo desde o meu primeiro mandato nesta Casa. Também meu repúdio a qualquer agressão ou ofensa às mulheres."
Sargento Julio Doze: "Peço desculpas à comunidade de Sant'Ana do Livramento pelo o que propiciei ontem (dia 10) aqui. Totalmente equivocado, deveria ter dado a outra face e acho que questões particulares se resolve fora desta Casa. Existem as autoridades policiais, o Judiciário. Aqui se trata de questões pertinentes e relevantes à comunidade de Sant'Ana do Livramento e todos aqui representam parte da comunidade. Aqui está a democracia, os partidos, suas agremiações, as representações, com seus eleitos escolhidos pela população. Nós devemos honrar essas pessoas que votaram em nós, trabalhar por eles e questões pessoais se resolvam da porta para fora."
De acordo com o regimento interno da Câmara Municipal, usar em discurso ou proposição "expressões que configurem crimes contra a honra" se caracteriza como quebra de decoro parlamentar. Segundo o Código de Ética Parlamentar da Casa, expressões atentatórias contra o decoro parlamentar são punidas com advertências por escrito. A suspensão do mandato ocorre em caso de reincidência do alerta escrito.