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Todas as especulações sobre a futura reforma ministerial convergem para a queda da ministra da Saúde, Nísia Trindade. Oficialmente, ela deve cair porque não entregou o que o governo esperava e o Ministério da Saúde não tem uma marca que ajude a levantar a popularidade do governo. Na prática, se a ministra sair mesmo, é porque não joga o jogo dos políticos e o governo é refém de um Congresso que só pensa no que resulta em dividendos eleitorais.
Nísia entrou no governo com a credencial de ser uma técnica com histórico de bons serviços na Fiocruz, mas não tem jogo de cintura para lidar com as demandas dos políticos, que destinam emendas para a saúde e querem prioridade aos seus redutos eleitorais. Ela também falhou na gestão das vacinas, uma área que deveria ser modelo no governo, depois dos quatro anos de negacionismo na gestão de Jair Bolsonaro.
O presidente Lula está descontente com a demora na entrega de programas como o Mais Especialidades, que poderia melhorar a imagem do governo reduzindo as filas no SUS. Esse é um programa desenvolvido em parceria com os Estados e depende de articulação política com os governadores e secretários de Saúde, mas o que atrasa sua efetivação é o desinteresse dos médicos por um motivo óbvio: dinheiro.
O valor que o SUS paga por uma consulta com especialista é muito inferior aos convênios privados, e isso dificulta o acerto com profissionais das áreas em que a fila é maior, como ortopedia, oftalmologia e otorrinolaringologia.
Não basta ampliar as consultas com especialistas se não houver o correspondente aumento dos procedimentos, sobretudo no caso da ortopedia e traumatologia. Também não é suficiente fazer mutirões, como fazem muitos prefeitos, e em seguida a fila voltar a crescer.
Por trás da mudança está a cobiça dos partidos (incluindo o PT) em comandar um ministério que tem dinheiro e poder. As siglas do centrão gostariam de voltar ao tempo em que o ministério era comandado por um deputado ou, no mínimo, abocanhar alguma diretoria milionária. No esboço da reforma ministerial, a Saúde ficará com Alexandre Padilha, hoje ministro das Relações Institucionais, e que já comandou a área.
Seja quem for o escolhido, os órgãos de controle precisam ficar atentos porque os interesses em jogo são bilionários. Até aqui, não se tem notícias de que Nísia tenha deixado janelas abertas para a corrupção.