Todos os envolvidos na segurança pública no Rio Grande do Sul são unânimes em afirmar que o feminicídio é o crime mais desafiador para a polícia. Porque são crimes que ocorrem dentro de casas que um dia foram lares — ou em locais onde a mulher está vulnerável. Não há como manter um policial de guarda na porta da casa de cada mulher que denuncia um ex-marido ou ex-namorado por violência doméstica e pede medida protetiva. Mesmo que isso fosse possível, seria inútil, porque as estatísticas mostram que 87% das vítimas de feminicídio no Rio Grande do Sul não tinham medida protetiva.
A mais recente, Paola Fischer, 31 anos, morta com 12 tiros pelo ex-marido, tinha conseguido medida protetiva de urgência, mas o agressor não usava a tornozeleira que a polícia disponibiliza e que está conectada a uma central de monitoramento, acionada quando se aproxima da mulher. Não estava “tornozelado”, como diz o chefe de Polícia, Fernando Sodré, porque a Justiça não determinou. Os equipamentos existem, mas ainda são poucas as mulheres protegidas por esse dispositivo eletrônico. De 2 mil equipamentos adquiridos pela polícia, só 185 estão em uso.
Chegou a hora de tratar o feminicídio não apenas como um problema de segurança, mas também de saúde pública. Homens que matam mulheres ou filhos para se vingar em caso de separação têm transtornos psicológicos. Boa parte se suicida após matar a mulher ou a família e os outros não mostram qualquer preocupação em ir para a cadeia. Mesmo depois que o feminicídio passou a ser considerado crime hediondo, o que fecha a porta para a liberdade com o cumprimento de um sexto da pena, esse tipo de crime não diminuiu.
O chefe de Polícia disse no programa Gaúcha Atualidade que Minas Gerais tem um programa interessante de acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico de homens violentos contra as mulheres. Não é nenhum favor para potenciais criminosos. É uma forma de evitar que matem. Aqui e ali existem iniciativas isoladas de comparecimento obrigatório a reuniões de terapia de grupo, mas o Estado precisaria de uma política pública robusta e permanente.
Não são apenas homens que precisam de atendimento psicológico. Mulheres que se mantêm presas a homem tóxicos por medo de se desfazer do vínculo ou por dependência econômica também precisam de terapia. Não é um luxo. É saúde preventiva, para que não tenhamos uma legião cada vez maior de crianças órfãs de pai e mãe.