O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Era para ser mais uma segunda-feira de sessões na Câmara Municipal de Porto Alegre, não fosse a proximidade do fim da atual legislatura. Com os últimos encontros antes do recesso, esta semana marca a conclusão da trajetória no plenário da Casa para 14 dos atuais vereadores, que não foram reeleitos. Três deles, veteranos de pelo menos seis mandatos e mais de 20 anos de história no parlamento, não contiveram as lágrimas e receberam os abraços e homenagens dos colegas.
Decano da casa, João Bosco Vaz (PDT) foi o primeiro a se despedir. Aos 69 anos, o pedetista decidiu pela aposentadoria e não disputou a eleição de 2024, após sete mandatos e 35 anos frequentando a Câmara. Muito emocionado, agradeceu aos que conviveram com ele durante a trajetória, homenageou o partido e colegas com quem dividiu o plenário e lembrou das amizades que fez "sem deixar um único inimigo".
— Como tudo na vida, e a própria vida se encerra num ciclo. Aprendi muito com muitos vereadores e vereadoras que passaram por aqui. Eu sou só agradecimento, não subi aqui (na tribuna) para fazer despedida. Agradecer, agradecer de coração a todos vocês. Foi uma opção minha não concorrer, uma opção minha encerrar aqui a minha vida pública como vereador. Um beijo no coração de todos, um bom Natal, ótima legislatura para quem vai ficar aqui, aos novos que vão chegar, e vou encerrando porque senão eu vou chorar — finalizou.
Ao descer da tribuna, Bosco foi abraçado e recebeu os cumprimentos dos colegas da Câmara, levando-o às lágrimas e frustrando as próprias expectativas de não chorar.
Na sequência, foi a vez de Airto Ferronato (PSB) dizer adeus ao plenário que ocupou também por seis legislaturas, desde que se elegeu pela primeira vez em 1988. Destacando projetos de sua autoria ao longo da carreira, o socialista garantiu que, mesmo fora da Câmara, seguirá atuando "pela construção de uma sociedade melhor".
— É um momento de despedida dos nobres colegas, de todos e todas, exercícios, mandatos, buscando sempre o diálogo, o entendimento. Acredito que contribuí com Porto Alegre nesse tempo todo. Acho que contribuímos com Porto Alegre e temos, sim, uma missão ainda longa pela frente, não é, vereador Adeli? Temos uma bela missão que nos espera. Tivemos as nossas dificuldades, mas tenho certeza do dever cumprido, e tenho a certeza de alguns reencontros no futuro — celebrou.
Ferronato foi sucedido pelo petista Adeli Sell, citado no seu discurso, que também encerra sua participação no Legislativo da Capital. Ambos disputaram a reeleição neste ano, mas não conseguiram os votos necessários — Airto Ferronato fez 3.057 votos e Sell, 2.406.
Eleito vereador pela primeira vez em 1996, Adeli Sell fez um discurso de despedida saudosista, lembrando das dificuldades de se fazer política quando não havia internet e o telefone "às vezes era discado", embutido em um pedido para que as novas gerações olhem para a história do Legislativo e "verifiquem as grandes contribuições que foram dadas por pessoas do passado".
— Há 52 anos estou aqui, em Porto Alegre, e sou uma das pessoas que, por amor a esta cidade, começou a se embrenhar em cada canto, em cada recanto de Porto Alegre e conheço muito bem esta cidade. Por isso, talvez a única falta que vai me fazer será minha não presença, no ano que vem, na discussão do Plano Diretor, porque sei que poderia dar grandes contribuições na questão urbanística, que, afinal de contas, é uma das minhas paixões. Esses tempos têm que ser lembrados. Talvez, em algum momento, eu possa também escrever algumas coisas sobre a Câmara Municipal e voltarei a vocês, sem dúvida nenhuma — projetou o petista, que se disse "sempre pronto para um bom cafezinho" no ano que vem.
Vereadores que não tiveram os mandatos renovados
- Adeli Sell (PT)
- Airto Ferronato (PSB)
- Alvoni Medina (Republicanos)
- Biga Pereira (PCdoB)
- Cassiá Carpes (Cidadania)
- Claudio Conceição (União Brasil)
- Claudio Janta (Solidariedade)
- Everton Gimenis (PT, que ocupa a cadeira como suplente do Engenheiro Carlos Comasseto)
- Idenir Cecchim (MDB)
- João Bosco Vaz (PDT, que decidiu não concorrer)
- Lourdes Sprenger (MDB)
- Mônica Leal (PP)
- Pablo Melo (MDB, que ocupava a cadeira como suplente de Cézar Schirmer)
- Professor Alex Fraga (PSOL)