Com a independência de quem cedo decidiu que não será candidata na eleição de 2024, a ex-deputada Manuela D'Ávila (PCdoB) resolveu questionar abertamente o processo de lançamento precoce das candidaturas de Maria do Rosário (PT) e Luciana Genro (PSOL). Manuela, que vive e estuda nos Estados Unidos, retornará a Porto Alegre meses antes da eleição e, garante, estará nas ruas fazendo campanha pela esquerda, sem ser candidata.
A ex-deputada questiona não apenas o lançamento de nomes sem esgotar as tentativas de unidade da esquerda, como a omissão dos partidos em relação aos líderes negros que se consagraram nas últimas eleições. Lembra que dos 10 candidatos de esquerda mais votados em Porto Alegre na eleição para a Câmara e a Assembleia em 2022, cinco são negros: Daiana Santos (PCdoB), Matheus Gomes (PSOL), Bruna Rodrigues (PCdoB), Karen Santos (PSOL) e Laura Sito (PT).
"Como é possível que esses nomes, expressões das periferias de Porto Alegre não sejam aventados para uma chapa com condições de vencer? Como é possível ignorarmos que a bancada antirracista é a grande expressão da conexão da esquerda com a cidade?", questionou Manuela em postagem no Instagram, rede na qual tem 2,1 milhões de seguidores.
Manuela não está sendo original na crítica ao que se poderia chamar de "colocar a carroça na frente dos bois", com o anúncio de candidaturas antes da construção da unidade. O ex-governador Tarso Genro e o deputado estadual Miguel Rossetto fizeram ponderações idênticas, mas sem aprofundar o fato racial e sem o mesmo alcance, eis que no mapa das redes sociais são quase invisíveis se comparados a Manuela.
A ex-deputada começa dizendo que na eleição de 2024 estará nas ruas, "fazendo campanha pra candidatura que representar o campo democrático e popular".
"Estarei à disposição para contribuir onde queiram: entregando panfletos na rua, ajudando nas redes sociais, debatendo o programa para a cidade. Mas, antes disso, uma vez mais, quero apresentar minha opinião sobre o pleito municipal", escreveu.
"Serão eleições difíceis, a gente já conhece o peso da máquina, que nossos adversários usam sem qualquer escrúpulo, e o massacre das fake news, por exemplo. Mas então, como vencer as eleições?", questiona.
Ela mesmo responde é uma obviedade dizer que para vencer "é preciso construir unidade no campo progressista". E acrescenta o ingrediente novo na receita:
"Precisamos levantar Porto Alegre, despertar o espírito de lutas de uma cidade que já provou ser capaz de inovar, ser criativa, se encantar com o novo para garantir justiça social".
É nesse contexto que ela considera importante ouvir o que chama de "recado da periferia", que fez brotarem votos em diferentes bairros para os candidatos negros.
Manuela esclarece que nada tem contra Maria do Rosário ou Luciana Genro, "companheiras de muitas lutas". Diz que não é um debate sobre elas, mas sobre a necessidade de ouvir as vozes da cidade e interpretar os recados dados nas urnas de 2020 e 2022.