No momento em que hospitais filantrópicos do interior do Estado ameaçam fechar leitos do SUS porque não conseguem bancar os custos com o valor que recebem por internações e procedimentos, a inauguração do Nora Teixeira é um alento para os pacientes. Como pode ser um alento se os leitos são destinados a pacientes privados e de convênios específicos? A explicação — fácil de entender — foi repetida ao longo do dia pela própria Nora, benfeitora que, com o marido Alexandre Grendene, doou o maior voluma de recursos, e pelo diretor-geral da Santa Casa, Júlio Matos.
Hoje, de cada R$ 100 que a Santa Casa gasta com um paciente do SUS, recebe apenas R$ 74. Os outros R$ 26 vão se acumulando e formam, ao final de cada ano, um déficit de R$ 150 milhões. Esse rombo é coberto com o que a instituição arrecada em todo o complexo com os pacientes privados e de convênios, mais as atividades paralelas, como a exploração dos estacionamentos.
Ao inaugurar mais um hospital que em nada deve aos mais modernos do Estado, a Santa Casa vai aumentar a receita com pacientes privados e de convênios e, assim, cobrir mais ou menos R$ 100 milhões do déficit. A emergência, embrião do hospital, inaugurada no ano passado, é 100% SUS.
O provedor Alfredo Guilherme Englert contou na inauguração que a Santa Casa segue um dos preceitos do cardeal Dom Vicente Scherer: não usa recursos de doações no custeio. As doações, essenciais na vida da instituição, servem para reformar ou construir prédios e renovar os equipamentos.
O próximo investimento, de R$ 60 milhões, será na modernização da Unidade de Transplantes da Santa Casa, o Hospital Dom Vicente Scherer. Nora e Alexandre doaram R$ 34 milhões. Para os outros R$ 26 milhões a Santa Casa espera encontrar novos doadores com a ajuda de Nora.
Amigos da Santa Casa
A diversidade política na inauguração do Hospital Nora Teixeira provou, mais uma vez, que a Santa Casa de Porto Alegre está acima das diferenças. No espaço reservado às autoridades, seis ex-governadores sentaram-se lado a lado e ficaram até o final da solenidade, que durou mais de três horas: Jair Soares (PP), Pedro Simon (MDB), Olívio Dutra (PT), Yeda Crusius (PSDB), José Ivo Sartori (MDB) e Ranolfo Vieira Júnior (PSDB).
Com o governador Eduardo Leite em São Paulo, para participar da reunião do Consórcio de Integração Sul e Sudeste, coube ao vice-governador Gabriel Souza sentar na primeira-fila, ao lado dos benfeitores Nora Teixeira e Alexandre Grendene e da presidente do Tribunal de Justiça, desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira.
Dos três senadores gaúchos, só Luiz Carlos Heinze (PP) aceitou o convite para a inauguração. Deputados estaduais e federais também acompanharam o ato que lotou a praça que faz a conexão entre os diversos hospitais e recebeu o nome de Alexandre Grendene, maior doador para o projeto nascido de uma sugestão de sua esposa e companheira de vida.
A Santa Casa, como lembrou o provedor Alfredo Guilherme Englert, recebeu recursos federais nos governos de Dilma Rousseff, Michel Temer, Jair Bolsonaro e Lula.