Nada é mais revelador da predileção dos gaúchos pela tradição — em detrimento de pautas mais relevantes — do que o fato de a privatização (ou não) do Banrisul ter mais destaque do que as propostas para a educação desde 1998. Foi naquela eleição apertada entre o então governador Antônio Britto (na época, do MDB) e o ex-prefeito de Porto Alegre Olívio Dutra (PT) que o Banrisul galgou ao topo da lista de polêmicas das campanhas, ao lado dos pedágios, e nunca mais saiu.
Britto encaminhou a privatização no seu governo e com ela a dívida renegociada com a União teria uma queda bastante significativa. Como não foi reeleito, Olívio manteve o Banrisul e o Estado passou a pagar 13% da receita corrente líquida para o governo federal, que assumira suas dívidas no ano anterior. É por essa dívida que o Estado entrou no regime de recuperação fiscal.
O Rio de Janeiro vendeu o Banerj, São Paulo vendeu o Banespa, Santa Catarina vendeu o Besc, mas o Banrisul resiste, mesmo com toda a pressão do governo federal pela privatização.
O pedágio saiu de pauta nas eleições seguintes porque os contratos estavam em vigor, mas voltou em 2014 e 2018, sem muita ênfase, e agora está de novo em alta, porque o governo de Eduardo Leite e Ranolfo Vieira Júnior fez o leilão de um dos lotes, adiou outro e congelou o terceiro.
A discussão desta campanha não é se as estradas terão pedágio: os dois candidatos finalistas ao segundo turno sabem que terão de conceder. A discussão é o modelo e, principalmente, se haverá pedágio na RS-118 — não haverá, ganhe quem ganhar, porque a população, os empresários e os líderes locais não aceitam.
Entende-se a discussão do pedágio porque afeta verdadeiramente a vida das pessoas. Mas como explicar que o Banrisul, 24 anos depois daquela eleição, seja tão ou mais discutido que a educação, por exemplo? Sim, o banco é um patrimônio dos gaúchos, mas e daí? Para o desenvolvimento do Estado, é mais importante do que políticas públicas de estímulo à inovação ou de um projeto robusto de qualificação de escolas e professores? Por que o Banrisul parece preocupar mais aos eleitores e candidatos do que os problemas da saúde e da educação?
O Banrisul é um não problema. Dá lucro para seus acionistas (o governo é majoritário), leva vantagem sobre os bancos privados porque tem uma carteira cativa de clientes e os mantém mesmo com a portabilidade, mas tem foco diferente de um Itaú ou de um Bradesco.
Aqui não se discute o mérito de privatizar ou não, mas de ter se tornado um tema relevante de campanha. O PDT condicionou seu apoio a Eduardo Leite a um compromisso de manter o banco público. O PT chegou a incluir o banco na lista de exigências, mas optou por não declarar apoio a Leite.
ALIÁS
No primeiro turno, o único candidato que falava com todas as letras em vender o Banrisul era Ricardo Jobim (Novo), que tinha um plano de usar o dinheiro em um fundo para qualificar a educação.