Embora Eduardo Leite (PSDB) não tenha confirmado com todas as letras no Gaúcha Atualidade que sua posição no segundo turno será de neutralidade, é isso que ele deve anunciar às 9h desta sexta-feira (7), em entrevista coletiva. Pressionado por todos os lados, o ex-governador passou os últimos dias conversando com aliados, empresários, conselheiros e amigos para avaliar os riscos embutidos nas três opções que tem: a neutralidade, o apoio ao ex-presidente Lula (PT) e a adesão ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Quem conversou com ele saiu convencido de que a adesão a Bolsonaro foi a primeira descartada. Pelos ataques que sofreu do presidente por sua orientação sexual, pelas divergências em relação à pandemia, pelas críticas por ter adotado medidas restritivas no auge da transmissão do coronavírus e pelo fato de o candidato de Bolsonaro no Rio Grande do Sul ser o seu adversário Onyx Lorenzoni (PL). Há, ainda, a certeza de que uma declaração de voto em Bolsonaro provocaria uma avalanche de votos nulos e brancos por parte dos eleitores de Edegar Pretto (PT), que somam 1,7 milhão de almas.
Uma declaração de apoio a Lula, como fizeram Simone Tebet, Fernando Henrique Cardoso e os principais integrantes da equipe econômica do governo FHC seria aplaudida pelos eleitores do PT, mas implicaria perder os bolsonaristas que votaram nele no primeiro turno, um contingente que a coluna calcula em torno de 425 mil eleitores. Esse não é o principal problema. A grande dificuldade é a rejeição ao PT entre os líderes dos partidos que integram sua aliança — PSDB, MDB, PSD, União Brasil e Podemos. Em todos há eleitores dos dois candidatos. O próprio presidente licenciado do PSDB estadual, Lucas Redecker, abriu o voto para Bolsonaro logo depois de encerrada a apuração do primeiro turno.
No MDB, que integra a chapa mas tem caciques apoiando Bolsonaro e Onyx desde o primeiro turno, uma declaração de apoio a Lula afugentaria parte dos que estão empenhados na campanha da dupla Eduardo Leite-Gabriel Souza. O PSD e o União Brasil liberaram seus filiados. O Podemos que saiu das urnas é tão bolsonarista quanto o PL e poderia fundir-se ao partido do presidente ou ao Republicanos sem que os eleitos sofressem qualquer trauma.
O motivo que mais pesa, no entanto, é outro. Leite quer trazer a discussão para o terreno da administração estadual e avalia que abrir voto para um candidato a presidente significaria entrar no jogo do adversário. Sempre que é questionado sobre os problemas do Estado, Onyx cita medidas do governo federal e reforça sua associação com Bolsonaro.
Há um último elemento a pesar pela neutralidade: as exigências do PT estadual de que ele assuma compromissos incompatíveis com seu plano de governo. Embora a privatização do Banrisul não esteja no plano de governo, Leite não quer uma camisa de força que o impeça de colocar o assunto em discussão, se for eleito.
A neutralidade não será pregação de voto nulo ou branco na eleição presidencial, o que seria um tiro no pé para quem precisa de votos válidos. O mais provável é que o ex-governador defenda o direito de cada eleitor escolher seu candidato — e a maioria absoluta já tem esse voto mais do que definido.
A expectativa é conquistar a maior parte dos eleitores de Edegar Pretto pela força da gravidade, na certeza de que jamais votariam em alguém tão alinhado com Bolsonaro quanto Onyx. O risco, não custa repetir, é esse eleitor votar nulo ou em branco por não se sentir representado por nenhum dos dois.
Vieira da Cunha não se manifesta
Por uma questão de ordem legal, o candidato derrotado PDT a governador, Vieira da Cunha, não abrirá seu voto no segundo turno. Explica-se: Vieira é procurador do Ministério Público Estadual e, nessa condição, não pode fazer manifestações políticas. Ele concorreu na condição de procurador licenciado e explica sua situação:
— Minha licença foi concedida com propósito específico: concorrer a cargo eletivo. Como não me classifiquei para o segundo turno, ela findou no domingo. Já na segunda-feira, retornei às minhas atividades profissionais. Como membro do MP, tenho impedimento de participar de atividades com cunho político-partidário. Não é uma opção pessoal. Trata-se de imposição legal.
Não confunda os Marcon
Veterano da política, o deputado Dionilso Marcon (PT) está preocupado com a possibilidade de ser confundido com o recém eleito deputado Maurício Marcon (Podemos), o que seria impossível para quem conhece os dois.
Dionilso, que na urna usa apenas o sobrenome Marcon, é ligado ao MST, petista de carteirinha e seguidor do ex-presidente Lula. Maurício, que foi expulso do Novo, é bolsonarista roxo e diz que se recusa a conversar com o PT.
No dia em que Maurício deu entrevista à Rádio Gaúcha, o deputado ficou preocupado porque começou a receber telefonemas de pessoas que ouviram a parte na qual o jovem caxiense defende a criação de um modelo de contrato de trabalho pelo qual o empregado não teria férias, 13º salário ou qualquer outro benefício dos previstos na CLT.
Vice-prefeito de Porto Alegre se licencia para fazer campanha
De sexta-feira até o dia 31 de outubro, o vice-prefeito Ricardo Gomes ficará afastado das atividades na prefeitura. Gomes pediu licença não-remunerada para se dedicar à campanha de Onyx Lorenzoni e Jair Bolsonaro.
A licença está prevista na Lei orgânica do Município de Porto Alegre, no inc. II do art. 57 e do inc. III do art. 92, e foi comunicada em ofício à Câmara Municipal.
Argenta ainda não se posiciona
O candidato a governador do PSC derrotado no primeiro turno, Roberto Argenta, ainda não oficializou a sua posição na disputa entre Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB).
Argenta diz que espera pela decisão do partido e deve comunicar o seu posicionamento na próxima semana. Como esteve ao lado de Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial, a tendência é de que Argenta apoie Onyx.