A matemática e a política vão pesar na decisão que, obrigatoriamente, o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) precisará tomar nas próximas horas e que selará seu futuro no segundo turno. Não existe caminho fácil para o candidato que se classificou para o segundo turno com escassos 2.441 votos de diferença para Edegar Pretto (PT).
O resultado da eleição mostra que nem todos os eleitores de Jair Bolsonaro (PL) no Rio Grande do Sul votaram em Onyx Lorenzoni (PL), o primeiro colocado, e Luis Carlos Heinze (PP), o segundo candidato da direita, e nem todos combinaram o voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a opção Edegar Pretto (PT). E como Leite fez mais votos do que as duas candidatas de partidos de sua aliança, Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil), deduz-se que teve apoio de franjas do eleitorado de todos eles e mais alguma coisa de Ciro Gomes (PDT), porque no Estado ele fez mais do Vieira da Cunha (1,6%).
O fato de ter recebido votos de petistas (em maior número) e de bolsonaristas, ainda que em proporção menor, torna mais difícil a situação de Leite neste segundo turno. Lula teve 2.806.672 votos no Rio Grande do Sul. Pretto fez 1.700.374. Para quem foi a diferença de 1.106.298 votos? A questão é matemática. Digamos que 17.222 tenham ido para Vicente Bogo (PSB), 6.252 para Rejane de Oliveira (PSTU) e 4.003 para Carlos Messalla (PCB). Restam ainda mais de um milhão.
Quantos votos fizeram as duas aliadas de Leite? Simone teve 317.957 votos e Soraya, 25.207. Em quem votaram para presidente os outros mais de 1,3 milhão de eleitores de Leite? É óbvio que a maioria votou em Lula, mas ainda assim a conta não fecha. Como Bolsonaro teve 3.245.023 votos no Rio Grande do Sul e Onyx 2.382.026, sobram 862.997 votos para outros candidatos a governador. Digamos que 271.540 tenham sido casados com Heinze e 126.899 com Roberto Argenta (PSC) e 38.887 com Ricardo Jobim. Restam 425.671. É essa, por alto, a fatia de bolsonaristas que votou em Leite.
Essa é a sinuca de Leite. Se declarar apoio a Bolsonaro, corre o risco de perder para brancos e nulos não apenas os eleitores de Pretto, como boa parte dos que votaram nele no primeiro turno. Se declarar apoio ao ex-presidente Lula, perderá os votos dos bolsonaristas.
Desde domingo (2), o ex-governador vem sendo pressionado, sobretudo por empresários, a não declarar voto em Lula. Como ele nada tem a ganhar repetindo o apoio encabulado que deu em 2018, restaria a opção “ficar em cima do muro”. Numa eleição polarizada como essa, não há espaço para a neutralidade.
A executiva estadual do PSDB vai se reunir na quarta-feira (5), à tarde, para decidir o rumo a tomar, mas o deputado federal Lucas Redecker já declarou apoio a Bolsonaro. Em São Paulo, o tucano Rodrigo Garcia abriu o voto para Tarcísio Gomes de Freitas (PL), candidato de Bolsonaro a governador. A executiva pode “liberar os filiados”, para evitar o racha, mas Leite precisará dizer alguma coisa aos seus eleitores e aos que ainda pode conquistar.
Além dos que votaram em outros candidatos, há os que apertaram a tecla branco ou anularam e um contingente que não saiu de casa para votar. Essa sinuca explica a demora de Leite em retardar as entrevistas e ir além da única e burocrática manifestação que fez na segunda-feira, quando seu vice, Gabriel Souza, foi mais político e contou ter telefonado para Edegar Pretto.
ALIÁS
A aliança com o MDB, mesmo com o partido rachado, garantiu a ida de Eduardo Leite para o segundo turno. Se Gabriel Souza tivesse concorrido, teria tirado votos dele e não dos outros concorrentes.