O roteiro não escrito pelo PSDB, mas que todos os tucanos sabiam de cor e salteado, previa exatamente o que aconteceu por volta do meio-dia desta segunda-feira (23): João Doria reconheceu que não tem apoio interno e externo e sepultou sua pré-candidatura a presidente da República.
O pronunciamento no qual reconheceu que não é o candidato do PSDB veio um pouco além da data esperada, mas ainda dentro do calendário que assinala 31 de maio como "o dia D".
No dia 2 de maio, a coluna publicou análise com o título "PSDB deve rifar Doria até o final de maio". O subtítulo dizia: 'Ex-governador espera deslanchar com aparições na TV, mas nem MDB quer sua companhia".
Bingo. A pá de cal veio de uma pesquisa encomendada por PSDB, MDB e Cidadania para identificar o potencial eleitoral de Doria e da pré-candidata do MDB, a senadora Simone Tebet.
Dirigentes dos três partidos concluíram, na leitura da pesquisa, que Doria não tinha futuro e que o melhor seria o PSDB apoiar Simone. O ex-governador de São Paulo estrilou, disse que estava sendo traído pelo partido e que, vencedor da prévia, se fosse preciso iria à Justiça para fazer valer a decisão de novembro do ano passado. Sua assessoria tentou ainda refutar as conclusões dos caciques partidários, mostrando uma pesquisa do Ipespe em que os índices e o potencial de Simone são inferiores aos de Doria.
Abandonado pelo PSDB, que não quer contaminar outros candidatos com a baixa popularidade do paulista, restou a Doria renunciar, deixando aberto o caminho para o partido indicar o vice de Simone ou ressuscitar Eduardo Leite como candidato a presidente, tendo a senadora como vice. Afinal, foi para isso que Leite deixou o governo do Rio Grande do Sul, no final de março.
A primeira reação de Leite e dos apoiadores do projeto foi de silêncio após o anúncio de Doria. Como vinha dizendo o ex-governador gaúcho, quando questionado sobre a indefinição em relação à candidatura ao Piratini, o desfecho se dará até o final de maio. Os próximos oito dias, portanto, serão cruciais.
Leite nunca escondeu que prefere arriscar a candidatura presidencial, mesmo sabendo que as pesquisas mostram a dificuldade para quebrar a polarização entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro. Mas, como diz o ditado, "quem não arrisca, não petisca".
Para um futuro projeto em 2026 é melhor se apresentar agora do que quebrar a palavra empenhada e concorrer à reeleição, sem qualquer garantia de que será eleito, embora as pesquisas de hoje lhe sejam favoráveis.
O silêncio dos tucanos em geral e de Leite em particular sinaliza que estão esperando o "corpo" da candidatura de Doria esfriar para fazer qualquer manifestação. A lógica sugere que o ex-governador gaúcho será candidato a presidente ou a vice, mas política não é ciência exata e, nos próximos dias, o Brasil saberá quem PSDB, MDB e Cidadania sacramentarão como candidato(a) a presidente da República.