No início da manhã desta quinta-feira (31), quando vários portais de notícias davam a informação de que o governador de São Paulo, João Doria, desistira da renúncia e, assim, estava abandonando o projeto de candidatura a presidente pelo PSDB, o governador Eduardo Leite teve uma reação cautelosa e cética:
— Talvez seja estratégia para forçar o partido a assumir claramente que ele é o candidato.
Bingo. Pouco depois do meio-dia, tornou-se pública uma carta do presidente do PSDB, Bruno Araújo, dirigida ao presidente do partido em São Paulo, com cópia para presidentes e diretórios estaduais, bancadas na Câmara dos Deputados, no Senado e nas Assembleias Legislativas e integrantes da executiva nacional, reafirmando o respeito à prévia vencida por Doria em novembro.
"Venho por meio desta reafirmar que o candidato a presidente da República pelo Partido da Social Democracia Brasileira é o governador do Estado de São Paulo, João Doria, escolhido democraticamente em prévias realizadas em novembro de 2021", começa o texto.
Em seguida, diz que "o governador tem a legenda para disputar a Presidência da República" e não há, nem haverá, qualquer contestação à legitimidade da prévia.
O que Doria vai fazer será conhecido às 16h. A simples intenção de continuar no cargo de governador provocou uma pororoca no PSDB, porque o vice, Rodrigo Garcia, que será candidato ao Palácio dos Bandeirantes, já estava fardado para assumir a cadeira de governador. Para a estratégia eleitoral de Garcia, que enfrentará Fernando Haddad (PT) e Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), Doria precisa deixar o governo para que sua avaliação negativa não contamine a candidatura do PSDB.
Garcia chegou a ameaçar desistir da disputa se Doria não renunciasse. Interlocutores do governador vazaram a informação de que ele desistira de renunciar por medo de ser traído pelo vice, a quem levou para o ninho tucano.
Foi o convite a Garcia e a oferta para ser candidato à sucessão que provocou a saída do ex-governador Geraldo Alckmin, hoje no PSB. Alckmin só queria ser candidato a governador, mas Doria acabou empurrando-o para os braços do ex-presidente Lula, de quem o ex-tucano deverá ser vice.
Se Doria desistir mesmo, Leite será o candidato natural do PSDB ao Planalto, mas terá de comer muita poeira para se tornar conhecido e ter alguma chance de se credenciar como nome da terceira via. O movimento de segunda-feira, quando anunciou a renúncia sem ter uma candidatura certa na mão, faz mais sentido quando se sabe que a expectativa no PSDB era de que Doria desistiria ali adiante. Surpresa foi a notícia, espalhada pelo próprio Doria, de que não renunciaria.
A quinta-feira gorda, pela aproximação do prazo final de desincompatibilização dos candidatos e da troca de partido, não se limitou ao movimento de Doria, cujo desfecho ainda pode ser modificado. O ex-juiz Sergio Moro, até aqui pré-candidato a presidente pelo Podemos, decidiu mudar de legenda aos 44 minutos do segundo tempo e cogita desistir da corrida à Presidência, trocando uma eleição improvável por uma vaga de deputado federal por São Paulo pelo União Brasil. Resultado da fusão do DEM com o PSL, o UB é um dos partidos que vêm conversando com Leite e que o estimularam a renunciar para não ficar inelegível.