Diferentes na forma e no tom, as reações do ministro Luiz Fux e do deputado Arthur Lira às declarações do presidente Jair Bolsonaro deveriam fazer soar o alarme no Palácio do Planalto. O presidente foi advertido de que precisa parar com as hostilidades. Se continuar, sua situação poderá ficar insustentável no Congresso, mesmo que tenha empenhado os anéis e os dedos na relação com o centrão.
Nenhuma das duas foi branda como interpretam os que gostariam de atropelar os tempos da política. Faltam dois elementos para desencadear o processo de impeachment: a consumação do crime de responsabilidade e pressão das ruas.
O presidente do Supremo disse o óbvio: descumprir decisões judiciais é crime de responsabilidade. Bolsonaro ainda não descumpriu. Só ameaçou. Com vontade política, os deputados até poderiam encontrar outros delitos para classificar como crime de responsabilidade, como fizeram com as pedaladas fiscais em 2016.
Se as ruas estivessem pedindo a saída de Bolsonaro, os deputados o enquadrariam. Mas as ruas não estão. Ao contrário, as manifestações mostraram que o presidente tem apoio de segmentos nada desprezíveis. Isso desencoraja os líderes dos maiores partidos a precipitar um processo que não está maduro.
Analisando-se frase a frase as manifestações dos presidentes da Câmara e do Supremo, o que se tem são recados bastante claros de que Bolsonaro passou da conta no 7 de setembro. Mesmo Lira, que é aliado do governo em um casamento por interesse, avisou que o tema do voto impresso é página virada, porque assim decidiram os deputados. E arrematou, em resposta à ameaça de Bolsonaro de não respeitar o resultado da eleição:
– Vale lembrar que temos a nossa Constituição, que jamais será rasgada. O único compromisso que temos inadiável no nosso calendário está marcado para 3 de outubro de 2022, com as urnas eletrônicas. É nas cabines eleitorais, com sigilo e segurança, que o povo expressa sua soberania.
Fux foi didático e passou a bola para o Congresso:
— Se o desprezo às decisões judiciais ocorre por iniciativa do chefe de qualquer dos Poderes, essa atitude, além de representar atentado à democracia, configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso Nacional.
Respondendo à ameaça de Bolsonaro de que “ou chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que não queremos”, avisou:
— Ninguém fechará esta Corte. Nós a manteremos de pé, com suor e perseverança.
Aliás
Se os discursos do presidente Jair Bolsonaro foram capazes de derrubar a Bolsa e fazer o dólar disparar, o que esperar dos próximos dias com essa absurda greve de caminhoneiros, que ameaçam parar o país para chantagear o Senado e pressionar pelo impeachment de ministros do Supremo? A quem interessa jogar o país no caos?
Luz alta
Só quem não conhece o centrão poderia esperar que Arthur Lira quebrasse os pratos, entregasse os cargos e anunciasse que abrirá um processo de impeachment. Dadas as circunstâncias, a resposta do presidente da Câmara é, sim, luz alta para bolsonaro.
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