A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) é a primeira do Brasil a desafiar a indicação do presidente Jair Bolsonaro para a reitoria. Os detalhes da rebelião serão divulgados às 17h desta quinta-feira (7), mas a coluna apurou que, em vez de renunciar, por não ter sido a mais votada, a professora Isabela Fernandes Andrade aceitará a nomeação, mas quem vai administrar de fato será o professor Paulo Ferreira Júnior. Os dois integraram a mesma chapa, mas, no Conselho Universitário, Paulo teve 56 votos, Isabela, seis, e Eraldo Pinheiro, dois.
Na prática, a UFPel viverá uma situação curiosa. Os diplomas, por exemplo, serão assinados por Isabela, mas quem colocará o “chapéu” na cabeça do formando e entregará o canudo simbólico será Paulo.
— Vamos mostrar que o presidente não manda na UFPel — disse o atual reitor, Pedro Cury Hallal à coluna.
Para que Paulo Ferreira Júnior seja o reitor de fato, Isabela vai nomeá-lo Pró-Reitor de Planejamento. Nesse cargo, ele desempenhará todas as funções de representação da universidade, sem depender da caneta do ministro da Educação, Milton Ribeiro.
A decisão mostra que o grupo está unido. No final da tarde, será divulgado um manifesto explicando a decisão de Isabela de transferir o poder para o professor Paulo.
Para entender o imbróglio é preciso retroceder à eleição realizada em setembro. No primeiro turno, duas chapas disputaram a indicação da comunidade universitária. Com peso idêntico para estudantes, professores e técnicos, a chapa UFPel Diversa, da qual participaram Isabela e Paulo, teve 46,4% dos votos, 20 pontos mais que a UFPel Mais, segunda colocada. No segundo turno, a UPEL Diversa fez 56,4% e a UFPel Mais, 43,4%.
Como existia um acordo informal de só a chapa vencedora indicar nomes para a eleição de fato, que ocorre no Conselho Universitário, apenas integrantes da UFPel Diversa integraram a lista tríplice encaminhada a Bolsonaro. Quando o ministro nomeou Isabela, multiplicaram-se os protestos, sob comando de Hallal, que liderou pesquisa realizada no Rio Grande do Sul para levantar os índices de incidência da covid-19 e subsidiar as ações do governo do Estado e iniciou trabalho idêntico no país, contratada pelo Ministério da Saúde. Com a queda dos ministros Luiz Henrique Mandetta e, depois, Nelson Teich, o Ministério da Saúde não quis continuar o trabalho.
As entrevistas de Hallal, que defendia restrições radicais à circulação de pessoas, para conter a disseminação do vírus, incomodaram o governo e seus aliados.
O deputado Bibo Nunes, que se gaba de ter indicado o reitor da UFRGS, Carlos Bulhões, assumiu a paternidade da indicação de Isabela. Nesta quarta-feira (6), na coluna assinada pelo jornalista Tulio Milman, Bibo afirma que foi dele a sugestão e avisa: “E vem aí a Universidade de Rio Grande”.
Além de já estar fechada com o grupo que integra sua chapa, Isabela não quer carregar o carimbo de “indicada” por Bibo.