Ferido, mas falando com voz serena, o ex-prefeito José Fortunati (PTB) definiu seu estado de espírito após a renúncia à candidatura, formalizada pela manhã:
— Estou machucado. Desde segunda-feira, vinha tentando fazer campanha, mas com essa espada na cabeça (a decisão do Tribunal Regional Eleitoral que indeferiu a candidatura de seu vice, André Cecchini). Agora acabou.
Quando atendeu o telefone, Fortunati havia acabado de regravar o programa que vai ao ar na noite desta quarta-feira no horário eleitoral:
— Precisava dar uma satisfação para meus eleitores. Terei que continuar dando satisfação até domingo.
Foi para poder continuar dando satisfação aos eleitores que ele optou por não formalizar a desistência na Justiça Eleitoral. Para efeitos legais, segue sendo candidato.
— Foi uma renúncia política. Legalmente, entramos com os embargos de declaração e aguardamos a manifestação do TRE, para que explique por que desrespeitou a lei e a súmula do TSE, indeferindo a candidatura quando já não havia prazo para trocar o candidato.
Fortunati disse que não gravou manifestação de apoio a Sebastião Melo (MDB), nem sabe se o fará:
— Estou sem cabeça para pensar. Mais tarde, vou lá para a sede do partido, refletir sobre o que fazer.
No início da tarde, Melo foi até a sede do diretório e recebeu o apoio do PTB, mas o desejo da coordenação e campanha é que Fortunati entre em campo e peça votos para o candidato do MDB, que foi seu vice entre 2013 e 2016:
— Não tenho nada contra o Melo, com quem sempre tive excelente relação. Não acredito que ele esteja por trás dessa manobra que inviabilizou nossa candidatura, embora tenha certeza de que o autor do recurso não agiu sozinho.
O autor do recurso que implodiu a candidatura é um obscuro candidato a vereador do PRTB. Quando soube que havia uma ação judicial contestando a filiação de seu vice, Fortunati estranhou que o autor fosse um desconhecido, filiado ao PRTB, partido que integra a coligação de Melo.
— Estranhei também que ele fosse assessorado por um advogado de São Paulo, reconhecido especialista em Direito Eleitoral. Ali ficou claro que ele não agia sozinho. Não dá para ser ingênuo. Talvez depois da eleição isso fique esclarecido, mas será tarde demais.
Fortunati segue convencido de que o TRE errou no julgamento e tornou a errar ao só liberar o acórdão, para que ele pudesse recorrer, às 8h33min desta quarta-feira, duas horas antes da manifestação em que ele anunciou a renúncia.
Passada a eleição, o ex-prefeito tentará retomar o curso de mestrado que estava fazendo em Lisboa, embora tenha parado por causa da pandemia e da campanha eleitoral. Fortunati garante que não tem mágoa do PTB. Diz que o partido fez o que estava a seu alcance e que seus advogados foram induzidos a erro pelos defensores contratados pelo Patriota, capitaneados por Renata Esmeraldino. Em nota (leia a íntegra abaixo), a procuradora afirma que a defesa da chapa "teve as ações conduzidas pelo ditames exigidos pelo Direito".
O ex-prefeito também diz não ter mágoa de Cecchini, a quem só conheceu quando foi indicado para ser seu vice:
— Tivemos uma excelente relação. Quando surgiu o nome dele, busquei informações com amigos do Conselho Regional de Medicina e do Sindicato Médico e todos foram unânimes em elogiar seu caráter e sua capacidade profissional.
O irônico da história é que Cecchini, pivô da confusão que resultou na implosão da candidatura, deveria ter sido o vice de Gustavo Paim (PP). Quando Paim desistiu da candidatura, o PRTB e o Patriota, que estavam com ele, caíram fora. O PRTB foi para a coligação de Melo e o Patriota aliou-se ao PTB. No dia seguinte, Paim recuou e retomou a candidatura, tendo apenas o Avante como aliado.
Leia nota da advogada Renata Esmeraldino:
"Informo que a defesa do processo de registro de candidatura da chapa PTB/Patriota, teve as ações conduzidas pelo ditames exigidos pelo Direito. Além disso, todas as suas etapas foram defendidas no primor da legalidade.
Infelizmente, contrariando todas as expectativas, o TRE-RS alterou o seu entendimento, indo de encontro a vasta jurisprudência neste momento decisivo da campanha eleitoral.
Ressalto, ainda, que todas as ações e fases do processo foram acompanhados pela excelência do trabalho do corpo jurídico completo da campanha e não somente por essa procuradora, com pleno entendimento de todos os atos, e que a renúncia veio em advento exclusivamente político da chapa, uma vez que há plena possibilidade recursal ao TSE."
Experimente um jeito mais prático de se informar: tenha o aplicativo GZH no seu celular. Com ele, você vai ter acesso rápido a todos os nossos conteúdos sempre que quiser. É simples e super intuitivo, do jeito que você gosta.
Baixe grátis na loja de aplicativos do seu aparelho: App Store para modelos iOS e Google Play para modelos Android.