Foi um exercício de humildade. Diante dos líderes da base aliada e depois da imprensa, o governador Eduardo Leite reconheceu ter cometido um erro político ao avalizar as mudanças no IPVA sem se preocupar com o impacto da vida de milhares de gaúchos que estavam programados para pagar o tributo entre janeiro e abril ou antecipar para dezembro, contando com um desconto de 3% suprimido em uma decisão burocrática, que ignorava a necessidade de as famílias e as empresas se planejarem.
A rejeição generalizada às mudanças e a pressão dos deputados aliados levou à única decisão possível: o recuo. O pagamento do IPVA será exatamente como foi no ano passado: desconto de 3% mais a manutenção do valor da Unida Padrão Fiscal, que a partir de janeiro é corrigida pela inflação do ano, incentivos um pouco menores para quem quitar a fatura entre janeiro e março, possibilidade de parcelamento e prazo limite em abril, em datas definidas conforme o final da placa.
Na entrevista que deu após comunicar a decisão aos deputados, Leite reconheceu que subestimou o impacto da medida, mas não desautorizou os técnicos da Fazenda que tiveram a ideia. Reafirmou sua "plena confiança" na equipe, que teria feito uma proposta "acertada diante do quadro fiscal dramático", mas que não foi compreendida pela sociedade.
Compreendida foi e, por isso, recebeu tantas críticas. A medida afetaria ainda mais brutalmente os servidores públicos, que estão com os salários atrasados. Atingiria trabalhadores que precisam do carro para se deslocar.
Ao contrário do que imaginam alguns afoitos, não foi "a pressão dos ricos" que fez o governador mudar de ideia. Para os verdadeiramente ricos, o IPVA não faz nem cócegas. A pressão veio da classe média, que aprendeu a gritar quando lhe pisam nos calos.
Leite deixou claro que também está recuando no IPVA para poder manter abertos os canais de diálogo com os deputados para a discussão dos projetos que realmente vão impactar no ajuste fiscal do Estado: os que alteram carreiras de servidores públicos, aumentam a contribuição previdenciária dos que ganham mais e reduzem a um salário mínimo a faixa de isenção de cobrança doas inativos.
A mudança no IPVA não significava acréscimo de receita. Era apenas uma alteração de fluxo de caixa. Essa expressão deveria ser evitada no Estado, depois do equívoco que Leite cometeu na campanha, ao dizer que o pagamento em dia dos salários dependia apenas de "ajuste no fluxo de caixa". A prática mostrou que o poço era mais profundo e que as medidas necessárias para colocar as contas em dia são mais duras do que imagina quem não conhece a máquina pública por dentro.