Pode-se discordar das ideias da futura ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, mas resumir sua biografia ao fato de ter visto Jesus em um pé de goiaba é preconceito, desrespeito e falta de empatia. Bastou que os colegas Kelly Matos, David Coimbra e Luciano Potter fizessem uma entrevista honesta com Damares no programa Timeline para entender que ela está sendo vítima de julgamentos apressados, talvez por ter sido assessora de um senador folclórico como Magno Malta, a quem a vaga estava inicialmente destinada.
Damares emocionou os ouvintes da Rádio Gaúcha ao contar a história de sua visão de Jesus na goiabeira, que virou meme nas redes antissociais. Aos 10 anos, deprimida porque fora abusada por um tio dos seis aos oito anos e ninguém compreendia a dor silenciosa que lhe corroía as entranhas, Damares, segundo o relato, foi ao porão de casa, pegou um pacote de veneno e caminhou até uma goiabeira, disposta a se suicidar. Na árvore, diz que viu a figura de Jesus e decidiu viver. Curou as feridas da alma, virou advogada, pastora e agora, aos 54 anos, será ministra.
– Eu venci a pedofilia – exultou.
Fé é questão de foro íntimo. Uns têm, outros não. Damares tem de sobra. E parece ser uma fé genuína, diferente da de muitos políticos que não se constrangem em usar o nome de Deus em vão.
No programa, Damares falou de seus planos para o ministério. Fez bravatas com pedófilos, já que não tem poder para acabar com essa infâmia, nem para punir todos os criminosos que molestam crianças. Mas prometeu políticas públicas para proteger as crianças e as mulheres vítimas de abuso, coisas que um governo pode e deve fazer.
Em certo momento, a futura ministra mostrou-se mais madura do que o próprio Jair Bolsonaro, que quer dar fim à educação sexual nas escolas e diz que “quem ensina sexo é papai e mamãe”. Damares sabe que, na maioria dos casos, papai e mamãe não falam sobre sexo com os filhos. E que a escola tem um papel relevante de orientação, até para prevenir a gravidez na adolescência e evitar as doenças sexualmente transmissíveis.
A futura ministra tem ideias estapafúrdias sobre feminismo, por exemplo, mas merece um voto de confiança.