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Uma inquietação percorre os principais gabinetes de Brasília com a demora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em deflagrar a reforma ministerial. Prevista inicialmente para o início de fevereiro, logo após a sucessão no comando da Câmara e do Senado, a mudança no primeiro escalão é considerada fundamental por Lula para preparar o governo para a eleição de 2026.
Com trocas em cerca de 10 pastas, o presidente deseja redistribuir espaços de poder para melhorar a relação com o Congresso e acelerar as entregas do governo. O objetivo final é reverter a queda na aprovação popular e consolidar uma aliança partidária robusta para a disputa da reeleição.
Para tanto, Lula tem trabalhado em silêncio. São raros os interlocutores que conhecem o novo organograma da Esplanada dos Ministérios e o ritmo das mudanças. Lula sempre reagiu mal às pressões por celeridade em trocas ministeriais e desta vez não é diferente. Todavia, dentro do próprio governo já há sinais de insatisfação com a demora.
Nos bastidores, ministros ameaçados de perder o cargo demonstram incômodo com a fritura pública, e os que irão permanecer reclamam da paralisia do governo esperando a reforma. Como Lula não antecipou nenhuma mudança em conversas pessoais, o ambiente de insegurança adormece as ações.
O caso mais notório é o da ministra da Saúde, Nísia Trindade. Alvo de queixas constantes de deputados e senadores, Nísia é alvo de especulações sobre sua saída desde o ano passado. Em janeiro, Lula decidiu demiti-la, mas depois sinalizou que ela permaneceria na pasta. Na sexta-feira (21), vazou a informação de que o presidente irá substituí-la pelo ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha. O vazamento causou um mal-estar nas duas pastas, já que Lula ainda não falou pessoalmente com nenhum dos dois.
Também vítima de reclamações de congressistas, Padilha tampouco está conduzindo as articulações políticas do governo, tarefa que nas últimas semanas está a cargo do chefe da Casa Civil, Rui Costa, que negocia a votação do orçamento de 2025 ainda parado no Congresso.
Lula deve se reunir com Nísia nesta terça-feira (25), sacramentando a mudança na Saúde. A expectativa é de que o encontro deflagre de uma vez a reforma ministerial. Há um entendimento em setores do governo de que as trocas precisam ser feitas até o Carnaval, para que os novos titulares já estejam à frente dos ministérios na segunda-feira seguinte, 10 de março.
No Palácio do Planalto, ventila-se que Lula reduziu a velocidade da reforma para não transparecer que as mudanças são induzidas pelo novo comando do Congresso. Embora tenha apoiado a eleição de David Alcolumbre (UB-AP) no Senado e de Hugo Motta (Republicanos-PB) na Câmara — e os tenha como aliados para a segunda metade do mandato —, o petista quer evitar a imagem de refém do centrão.
Outra justificativa apresentada é que Lula viu a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, apresentada terça-feira passada, como um elemento para enfraquecer o principal rival e não quis criar um novo fato político que desviasse o foco do noticiário. Enquanto não faz os anúncios, Lula deixa escapar algumas pistas.
Para o lugar de Padilha na SRI, por exemplo, o mais cotado é o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos). Além de próximo a Hugo Motta, com quem passou o final de semana em festejos de pré-Carnaval em Pernambuco, Silvio tem trânsito fácil em quase todas as bancadas da Câmara e sempre ajuda para atrair apoio nas votações estratégicas ao governo.
— Ele tem dado um show no trabalho dele. É um menino que não tem discórdia com ninguém e só trabalha para fazer as coisas acontecer — disse Lula sobre o ministro na última sexta-feira, em evento no Rio.
Para interlocutores de Lula, o principal desafio na reforma é encontrar espaço aos ex-presidentes do Senado e da Câmara, respectivamente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL), sem causar fissuras internas nem externas. Lula quer uma pasta que catapulte Pacheco ao governo de Minas Gerais em 2026 e que garanta a fidelidade de Lira. Para tanto, é dado como certo que será preciso mexer em pastas econômicas, como Agricultura, Minas e Energia e Indústria e Comércio, esta última ocupada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
Quem pode sair e quem pode entrar na Esplanada
Veja os nomes de quem pode participar da dança das cadeiras na reforma ministerial
Agricultura
- Sai: Carlos Fávaro (PSD)
- Entra: Arthur Lira (PP) ou alguém indicado por ele
Desenvolvimento Agrário
- Sai: Paulo Teixeira (PT)
- Entra: Edegar Pretto ou Paulo Pimenta (PT)
Indústria e Comércio
- Sai: Geraldo Alckmin (PSB)
- Entra: Rodrigo Pacheco (PSD)
Minas e Energia
- Sai: Alexandre Silveira (PSD)
- Entra: Arthur Lira (PP) ou Rodrigo Pacheco (PSD)
Pesca
- Sai: André de Paula (PSD)
- Entra: sem nomes cotados até agora
Portos e Aeroportos
- Sai: Silvio Costa Filho (REP)
- Entra: sem nomes cotados
Relações Institucionais
- Sai: Alexandre Padilha (PT)
- Entra: Silvio Costa Filho (REP) ou Alexandre Silveira (PSD)
Saúde
- Sai: Nísia Trindade (técnica)
- Entra: Alexandre Padilha
Secretaria-Geral
- Sai: Márcio Macêdo (PT)
- Entra: Gleisi Hoffmann (PT)