Quase 16 anos depois de deixar o Palácio Piratini, o ex-governador Olívio Dutra viu, em letras garrafais na página 13 de Zero Hora, um apedido com o título "Reparação à honra de Olívio Dutra" e a explicação: "Esta publicação se dá em cumprimento à decisão judicial condenatória contra Paulo do Couto e Silva (...) proferida na Ação de Responsabilidade Civil por Dano Moral nº 001/1.05.0135984-6, da 8ª Vara Cível do Foro de Porto Alegre, transitada em julgado em 19/08/2015". A decisão pode ser lida aqui.
Paulo do Couto e Silva, em apedido publicado em ZH em 27 de novembro de 2001, havia afirmado que Olívio era conivente e tinha interesse com a prática do jogo do bicho. Um trecho da decisão judicial citada no apedido de hoje diz: "... não há como desconsiderar calúnia na passagem que sugere o envolvimento de Olívio com a contravenção".
O ex-governador está em São Luiz Gonzaga e, de lá, conversou com a coluna por telefone:
O que o senhor sentiu ao ver, tantos anos depois, o apedido de página inteira em ZH com a reparação obtida na Justiça a uma calúnia feita quando era governador?
Antes tarde do que nunca. O fato de tardar mostra que a Justiça é falha. A Justiça precisa ser expedita para ser justa. O que esse cidadão, que até já morreu, queria, ele conseguiu: desgastar ao máximo um governo republicano, democrático, que tinha um projeto com o qual ele e seu grupo não concordavam.
Além de gastar com advogados, de perder tempo em audiências, que outros prejuízos o senhor teve?
Com advogados não me preocupei, porque temos advogados militantes que me defenderam sem se preocupar com isso. Mas tive prejuízos políticos. As acusações que me imputaram desgastaram o governo, interna e externamente. Tanto é assim que não pude concorrer à reeleição (na prévia do PT, Olívio perdeu para Tarso Genro, que disputou a eleição de 2002 e foi derrotado por Germano Rigotto, do PMDB).
Em algum momento o senhor achou que nunca iria obter essa reparação?
Nunca abdiquei de lutar pelo que considerava o meu direito de mostrar que tinha sido vítima de mentiras. Fomos a todas as instâncias. Eles recorreram até não conseguir mais evitar a publicação e, finalmente, a verdade veio à tona.
Quando o senhor esteve doente (Olívio venceu um câncer), teve medo de morrer antes de sair a sentença definitiva?
Não cheguei a pensar nisso, mas claro que havia o risco. Estou com 77 anos e, nessa idade, tenho de cuidar mais da minha saúde. Esses dias falei para a Judith: "Temos que viver pelo menos mais 20 anos para ver o nosso netinho crescer". Ele está com dois anos e oito meses, o outro tem 14 anos. Hoje estou aqui em São Luiz Gonzaga. Vou aproveitar para colocar algumas leituras em dia. No dia 12 tenho uns exames em Porto Alegre, mas voltaremos para passar o Natal aqui.
Em algum sentido esse episódio é pedagógico?
Penso que sim. As pessoas dizem o que querem, depois as coisas não se confirmam e o estrago está feito. Vivemos uma situação semelhante em relação ao Lula. Tem muita coisa que o Lula e o PT precisam responder, mas nem tudo o que se diz dele está provado.