Nem os discípulos que acreditam em tudo o que o presidente Michel Temer diz levaram fé na afirmação de que ele não se incomodou com o artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugerindo o desembarque do PSDB do governo após a convenção de dezembro. Mais difícil ainda é acreditar que Temer não tenha mesmo feito qualquer análise do texto, como afirmou sua assessoria. Então o oráculo dos tucanos recomenda a saída do PSDB da base do governo dele e Temer nem chateado fica?
A reação dos líderes do PMDB indica que Temer se irritou, sim, e muito. A interpretação corrente é de que o PSDB está sendo oportunista e se preocupa apenas com o calendário eleitoral. O líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi, disse que o PSDB não tem por que esperar até dezembro para entregar os cargos que ocupa no governo Temer. A convenção está marcada para o dia 9 de dezembro.
No artigo Hora de Decidir, publicado nos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo, Fernando Henrique diz que “ou o PSDB desembarca do governo na convenção de dezembro próximo, e reafirma que continuará votando pelas reformas, ou sua confusão com o peemedebismo dominante o tornará coadjuvante na briga sucessória”. Referindo-se ao projeto do PSDB, termina com uma frase que pode ser interpretada como um chega pra lá no PMDB como parceiro preferencial em uma aliança “Terá cara renovada em 2018? Os cabelos não precisam ser tingidos, mas a alma deve ser nova, para que a coligação que formar ganhe credibilidade e possa virar a página dos desastres recentes”.
Defensor aguerrido de Temer, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) entendeu o recado e deu a resposta no mesmo tom em entrevista a O Globo:
— Não existe no PMDB, hoje, ambiente para uma aliança com o PSDB, principalmente se o candidato for o governador Alckmin. Até por isto, um grupo de peemedebistas se mobiliza para exigir que o partido lance um candidato à Presidência, que pode ser uma personalidade já filiada ou que venha a se filiar.
FHC deu aval a Tasso Jereissati, que defende a entrega dos cargos e reforçou a posição de Geraldo Alckmin, de que é possível votar a favor das reformas sem ocupar ministérios.
Aliás
Michel Temer está prestes a perder o PSDB, mas tem motivos para respirar aliviado: depois de fazer ameaças veladas, o ex-deputado Eduardo Cunha virou defensor do presidente.