Para tudo existe uma explicação – até para a pesquisa do CNT/MDA, que mostra o ex-presidente Lula em primeiro lugar em todos os cenários de primeiro e de segundo turno para a eleição presidencial de 2018 e o deputado Jair Bolsonaro em segundo lugar. O desencanto com a política e a falta de concorrentes capazes de seduzir o eleitor estão entre os motivos mais óbvios para o resultado da pesquisa. Mas há outros.
À primeira vista, parece inexplicável que Lula esteja em primeiro lugar, mesmo condenado a nove anos e meio de prisão e sendo réu em seis processos no momento da pesquisa (o sétimo foi o da Zelotes, com denúncia por corrupção passiva aceita nesta terça-feira). Igualmente difícil de acreditar é que um sujeito como Bolsonaro esteja em segundo lugar. É para explicar fenômenos como esse que existem as pesquisas qualitativas, que fazem o eleitor justificar suas escolhas.
A socióloga Elis Radmann, diretora do Instituto IPO, tem a explicação para o resultado da pesquisa CNT/MDA a partir do que ouviu de eleitores do Rio Grande do Sul em pesquisas qualitativas. Quem vota em Lula usa como principal argumento a memória das políticas sociais do governo dele. Pode ser o acesso à universidade (Prouni), a moradia (Minha Casa, Minha Vida), o Bolsa Família. Outro argumento que aparece nas pesquisas do IPO é uma versão do “rouba mas faz”. Os eleitores dizem que todos os políticos são corruptos e que, pelo menos, no governo Lula, tiveram uma vida melhor.
De acordo com a diretora do IPO, o voto em Bolsonaro vem de três vertentes:
– Há os que acham que ele pode botar ordem no país, resgatando valores nacionais, os que sofrem com a ausência do Estado e acreditam em soluções mágicas sem questionar e os que canalizam para ele o voto de protesto, como os eleitores do Rio fizeram com o Macaco Tião no passado.
Como explicar os baixos índices dos líderes do PSDB? Elis não tem a resposta para os dados nacionais, mas partindo das respostas dos gaúchos conclui que as acusações contra Aécio Neves sujaram a água para Geraldo Alckmin. João Doria ainda é pouco conhecido.
A avaliação negativa recorde do presidente Temer é justificada pela combinação de três elementos: o governo não entregou o que prometeu, o PMDB está afundado em denúncias de corrupção e propôs reformas que o eleitor repudia.
Um dado preocupante que aparece em todas as pesquisas do IPO é o que Elis chama de “alienação eleitoral”: mais da metade dos eleitores se declara inclinada a não comparecer às urnas ou a votar nulo ou em branco. Esse cenário, diz a socióloga, é terreno fértil para o surgimento de um “salvador da Pátria”, como Fernando Collor foi em 1989.
Elis adverte que é preciso olhar com cautela as pesquisas nesta época:
– Pela instabilidade do cenário e pelo grau de decepção com os políticos, o retrato do momento é o mais frágil de todos os tempos.
O eleitor não tem nenhuma assertividade. Pode mudar de ideia a qualquer momento.