A gravação de um pronunciamento do vice-presidente Michel Temer, como se estivesse falando à nação momentos após a aprovação do impeachment na Câmara, tem um ar de surrealismo. Temer viajou para o futuro, deu o impeachment por aprovado e ainda deu a entender que rompeu o silêncio porque foi provocado diante do resultado na Câmara. O vazamento do áudio é um equivalente digital do gesto de sentar na cadeira antes da eleição, levando em conta o resultado das pesquisas. Em 1985, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso fez isso para a produção de uma foto, mas quem ganhou a eleição foi Jânio Quadros. Ao assumir, o folclórico Jânio desinfetou a cadeira.
Posted by Zero Hora on Monday, April 11, 2016
Temer e o áudio do Whats: Rosane de Oliveira comenta os assuntos políticos do dia.Ouça o áudio aqui: http://ow.ly/10y5M7
À Folha de S.Paulo, que divulgou o áudio, a assessoria do vice confirmou a veracidade e disse que Temer o enviou "por acidente" aos aliados. "Trata-se de um exercício que o vice estava fazendo em seu celular e que foi enviado acidentalmente para a bancada", diz a assessoria de Temer. O ex-ministro Eliseu Padilha tentou minimizar a gafe e pediu, em seu perfil no Twitter: "AUDIO DE MICHEL TEMER: quem ainda não ouviu, sugiro que ouça com atenção. Suas palavras são esclarecedoras sobre o momento". Passou a impressão de que o vazamento foi estratégico, e não um acidente como o envio de cópia para a pessoa errada ou mesmo de traição nas hostes do PMDB.
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Se Temer queria quebrar o silêncio e falar em governo de conciliação nacional, dirigindo-se "ao capital, ao trabalho e aos que estão sem emprego", por que não dar uma entrevista coletiva? Será que a manifestação do vice-presidente ajuda a dobrar os indecisos ou, ao contrário, reforça a suspeita de conspiração? Na gravação, Temer diz que está fazendo seu primeiro "pronunciamento à nação". Que decidiu falar "agora, quando a Câmara dos Deputados decide por uma votação significativa declarar a autorização para a instauração de processo de impedimento contra a senhora presidente". Diz ainda que é preciso ter em mente que ainda haverá "um longo processo pela frente", já que o processo propriamente dito ocorre no Senado.
Premonição? Excesso de confiança? Ou, de fato, uma estratégia para vazar "sem querer querendo"? Em uma rápida entrevista, que durou os mesmos quatro minutos da convenção em que o PMDB aprovou a saída do governo, Temer disse que gravou o áudio para responder a perguntas de pessoas do partido. E que o mandou por engano para um grupo de WhatsApp.