Para tentar evitar o impeachment, o governo da presidente Dilma Rousseff está oferecendo aos remanescentes na base aliada, como PP e PSD, os cargos que ficarão vagos com a saída do PMDB – algo em torno de 600. Para tentar garantir o impeachment, emissários do vice-presidente Michel Temer acenam para esses mesmos partidos com cargos em um futuro governo comandado pelo PMDB. Quem dá mais nesse leilão?
O que é melhor: um ministério forte na mão, agora, com risco de perder se o impeachment for aprovado? Ou um mais modesto, em um possível governo Temer, sem o desgaste que Dilma enfrenta? São essas perguntas que se fazem os líderes dos partidos assediados, enquanto empurram a decisão mais para a frente, fazendo as contas sobre números de votos, chances de um e chances de outro, perdas e ganhos. Partidos de borracha, flexíveis ao ponto de poder servir a qualquer projeto de poder. Legendas que jamais conseguiriam chegar ao poder com as próprias pernas, negociam seu apoio na bacia das almas, considerando apenas o proveito que poderão tirar ali adiante. São essas deformações que desqualificam a política e alimentam a descrença da população.
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É fato que em quase todos os partidos há deputados e senadores que agem por convicção e que votarão de acordo com a consciência. Há, no entanto, líderes que se pautam exclusivamente pelos benefícios que podem obter numa negociação.
A falta de consistência dos partidos explica por que pessoas aparentemente sem nenhuma afinidade estão reunidas sob a mesma bandeira. Resulta dessa gelatina uma situação que torna difícil prever os efeitos da oferta de cargos a este ou aquele partido: os atuais e futuros ministros não têm o domínio das bancadas. O número de votos que cada um pode agregar é incerto.
Nas mensagens que a ministra Kátia Abreu trocou com um interlocutor durante o lançamento da terceira fase do programa Minha Casa Minha Vida, ela diz que os ministros do PMDB decidiram continuar no governo a despeito da decisão do diretório nacional. A negociação teria sido feita na casa de Renan Calheiros, o que sugere jogo duplo de parte do presidente do Senado.
A ser confirmada, a decisão dos peemedebistas de ficar atrapalha a articulação do Planalto, que já estava oferecendo os cargos a outras siglas. Na mesma lógica utilitária dos partidos, o Planalto terá de fazer as contas para ver quem tem mais votos: o dissidente peemedebista ou o convidado de outras legendas, dessas que abrigam o chamado baixo clero?
Kátia Abreu não entra nessa conta. Dilma quer que fique, porque confia nela e sabe que conhece o setor como poucos dos integrantes do primeiro escalão. Kátia está decidida a continuar, mesmo que isso signifique a expulsão do PMDB, porque é amiga de Dilma e o próprio partido a considera como integrante da cota pessoal.