
Oito anos depois de uma briga de condomínio ter terminado em tragédia em Porto Alegre, a Justiça condenou o bombeiro Tiago Lamadril Borges a oito anos de prisão em regime semiaberto pela morte do estudante colombiano Eduardo de la Hoz.
Natural de Barranquilla, na Colômbia, Eduardo fazia mestrado em História na UFRGS. O crime ocorreu em 16 de fevereiro de 2017, quando o jovem de 29 anos questionou o subsíndico do prédio onde morava, na Avenida Cristóvão Colombo, sobre o sumiço de sua bicicleta na garagem. Após discussão, outro morador do prédio, o soldado Borges, apareceu para intervir. Armado, teria dado voz de prisão ao colombiano. Eduardo não teria atendido. Borges disparou dois tiros que atingiram o jovem. Eduardo ficou internado sete meses (dois deles em coma) no hospital até morrer, em 24 de setembro daquele ano.
Na segunda-feira (7), o bombeiro foi julgado pela 2ª Vara do Júri do Foro Central da Capital. O réu foi condenado por crime doloso contra a vida. Além do período de reclusão, a Justiça entendeu que Borges deve perder o cargo de militar do Corpo de Bombeiros: "No caso, tratando-se o réu de bombeiro militar, esse fator revela maior grau de reprovabilidade a justificar o reconhecimento da acentuada culpabilidade, dada as específicas atribuições dos agentes de segurança pública, que detém treinamento profissional para intervir em situações de conflito, a fim de garantir a integridade dos envolvidos, sobretudo considerando tratar-se de agenda da segurança pública, cuja missão precípua é a de salvar vidas", informa a sentença.
Foram quase 10 horas de audiência, acompanhada pelo irmão da vítima, Hector de la Hoz, que mora em Florianópolis e viajou a Porto Alegre para o Júri.
- É uma mistura de sentimentos na família. Desta vez, a Justiça chegou. Nada disso vai trazer o meu irmão de volta, o filho, o tio, a pessoa querida que nos acompanhava todos os dias - disse Hector.
A defesa, sob responsabilidade da advogada Tais Martins Lopes, afirma que irá recorrer ao Tribunal de Justiça. Ela sustenta que Borges agiu em legítima defesa, depois de ter ficado quase 20 minutos contendo Eduardo e após ter chamado por apoio da Brigada Militar.
Outro argumento é que, durante o julgamento, um dos sete integrantes do corpo de jurados teria cochilado enquanto Borges prestava seu depoimento. A defesa pediu a dissolução do conselho de sentença, mas a juíza Eveline Radaelli Buffon indeferiu a solicitação.
- Se ele dorme no Júri, não ouve a versão do réu. Tem um vício no julgamento dele. A juíza chamou no microfone, pediu, inclusive várias vezes, para que o oficial de Justiça intercedesse. Começou um burburinho. A juíza, então, botou a mão em cima da mesa, e, só assim, o jurado acordou - relata Taís.
Embora tenha indeferido o pedido para dissolução do conselho, a juíza registrou o incidente na ata da audiência.
A família é representada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS).