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É difícil formar opinião sobre a venda de bebidas alcoólicas dentro de estádios e arenas de futebol. Não é simples. Desde 2008, a legislação estadual (12.916/2008) proíbe a venda, mas, de tempos em tempos, um vereador em Porto Alegre ou um fato externo aparece questionado o status quo.
Dessa vez é o vereador Márcio Bins Ely, do PDT, que protocolou projeto na Câmara Municipal, sugerindo a comercialização antes, nos intervalos e depois das partidas. No argumento, diz que "estudos comprovam que atos de violência estão ligados a confrontos entre torcidas organizadas e não diretamente ao consumo de bebidas alcoólicas no interior dos estádios".
Não é o primeiro: em 2015, o vereador Alceu Brasinha conseguiu aprovar projeto semelhante no parlamento municipal, mas o texto foi vetado pelo então prefeito José Fortunati, sob argumento de que seria tema de competência de Estados e União. Em 2016, Cláudio Janta protocolou proposta proposta no mesmo sentido, mas ela acabou arquivada.
Há dúvidas do ponto de vista legal se uma lei municipal poderia se sobrepor a legislação estadual. A coluna tentou contato com Bins Ely, mas não obteve retorno. Perguntada sobre a possibilidade de sancionar ou vetar a eventual aprovação, por parte da Câmara, a assessoria do prefeito Sebastião Melo disse que "o Executivo respeitará o debate e a decisão do Legislativo", sugerindo que, se ela for aprovada, será sancionada. A prefeitura faz a ressalva de que há que se considerar a hierarquia das esferas, mas a linha é de acolher a decisão da Câmara.
Na vida real, há quem encha a cara antes e depois do jogo. E, na opinião deste colunista, é hipocrisia falar de proibição durante duas horas se, o álcool corre solto no entorno das arenas. Sem falar na "Lei Fifa", que, em tempos de Copa do Mundo atropela as constituições locais e nacionais, fazendo valer a força do patrocinador — foi assim em Porto Alegre e no resto do Brasil em 2014. O Mundial do Catar foi exceção.