O fato de o governo Lula ter barrado o convite à Venezuela e à Nicarágua como novos parceiros do Brics é, até agora, o mais importante gesto da diplomacia brasileira de rejeitar as neoditaduras latino-americanas - antigas aliadas, diga-se de passagem. No entanto, o importante veto não significa uma garantia de que o bloco de países está blindado de arranjos ideológicos que questionem a democracia e a globalização ou violem os direitos humanos e a liberdade econômica e de imprensa e expressão.
Aliás, um bom termômetro para se medir a sanidade democrática dos integrantes é o ranking da Freedom House. Por esse parâmetro, dos cinco integrantes do bloco original, apenas Brasil e África do Sul são consideradas nações "livres". Rússia e China são classificadas como "não livres". E Índia é "parcialmente livre". Daí já é possível depreender para onde marcham os Brics.
Ainda que as ditaduras de Nicolás Maduro e Daniel Ortega tenham sido barradas no baile, preocupa que outros regimes autoritários estejam na lista de convidados. Há sete países não livres na lista de convidados: Cuba, a mais antiga ditadura latino-americana, Vietnã, Uzbequistão, Cazaquistão, Uganda, Turquia e Belarus. Este último, tem um governo que é marionete da Rússia de Vladimir Putin, haja vista seu papel na invasão da Ucrânia. Bolívia, Indonésia, Malásia, Tailândia e Nigéria são "parcialmente livres".
É compreensível que os Brics se arvorem o direito de questionarem a ordem liberal liderada pelos Estados Unidos - toda hegemonia é passível de críticas. Mas daí a tornar um agrupamento de párias internacionais é um passo - vale lembrar que o governo do Talibã também queria cadeira.
Vale destacar que o chamado Brics+ - ou Brics Plus, a versão ampliada do grupo - incorporou Arábia Saudita, Argentina, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã. Metade das novas adesões sofre de déficit democrático.
Os convidados
Cuba - Não livre
Bolívia - Parcialmente livre
Indonésia - Parcialmente livre
Malásia - Parcialmente livre
Vietnã - Não livre
Uzbequistão - Não livre
Cazaquistão - Não livre
Tailândia - Parcialmente livre
Nigéria - Parcialmente livre
Uganda - Não livre
Turquia - Não livre
Belarus - Não livre
*Ranking da Freedom House