O setor produtivo é fundamental para a reconstrução de uma economia mais resiliente a partir da tragédia climática de maio no Estado. Essa é a opinião de Phil Klose, CEO para a América Latina da Rödl & Partner, consultoria estratégica e de negócios.
O executivo será um dos moderadores do seminário 200 Anos de Imigração Alemã no Brasil, que reúne de sexta-feira (2) a domingo (4) grandes empresários para debates sobre a recuperação econômica com base em lições do país europeu. O evento ocorre em Canela, no Kempinski Laje de Pedra, um dos organizadores do seminário, junto com a Rödl & Partner, entre outros.
Como reconstruir a economia do RS?
A reconstrução da economia do Rio Grande do Sul é uma tarefa desafiadora, mas viável visto que já foi feito em outros países diversas vezes. Envolve diversas estratégias integradas, desde investimentos em infraestrutura até a implementação de políticas de incentivo à inovação. É essencial focar tanto em setores tradicionais, como a agricultura e a indústria, quanto em promover o desenvolvimento de novas áreas, como tecnologia e sustentabilidade. Explorando um pouco mais, investir em infraestrutura moderna, como ocorreu na reconstrução alemã, pode revitalizar cidades, melhorar a conectividade, facilitar o comércio e atrair novos negócios, criando uma base sólida para o crescimento econômico no Rio Grande do Sul. Simultaneamente, incentivar a inovação por meio de políticas de apoio a startups e empresas tecnológicas pode diversificar a economia e aumentar sua resiliência. Além disso, a Alemanha destacou-se pela educação e formação profissional, garantindo uma força de trabalho qualificada. Seguindo este exemplo, o Rio Grande do Sul pode focar na educação para criar uma mão-de-obra competitiva e inovadora, impulsionando diversos setores econômicos. Colaborar com parceiros internacionais, como a Alemanha, que já passou por isso várias vezes, pode trazer novas ideias e tecnologias que impulsionem o crescimento econômico. A troca de experiências e conhecimentos pode ajudar o RS a adotar práticas avançadas em sustentabilidade e inovação, fortalecendo sua posição global e garantindo um desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo.
Em que sentido a experiência da Alemanha, que viveu tragédias como guerras e destruições, contribui de alguma forma com o debate da reconstrução no RS?
A experiência da Alemanha na reconstrução pós-guerra oferece um exemplo valioso para o Rio Grande do Sul. Esses mesmos princípios podem ser aplicados no estado para criar um ambiente favorável ao empreendedorismo, à inovação e aos investimentos. Quanto ao espírito de reconstrução, tenho um exemplo forte em minha família. A minha avó foi uma das famosas Trümmerfrauen (mulheres dos destroços), que começaram a reconstruir o país após a guerra. Imagine mulheres sem casa, com filhos, sem emprego, e com maridos presos ou distantes. Em uma situação dessas, muitos teriam desistido, mas elas assumiram o controle e começaram a colocar tudo em ordem, começando por limpar a bagunça. Esta é uma lição importante, independentemente da situação, encontre um meio de se ajudar, reconstruir e recomeçar a economia. O espírito de inovação e colaboração da Alemanha também foi fundamental. Promover parcerias entre governo, setor privado e instituições de pesquisa fomentou um ambiente de criatividade e progresso tecnológico. Para o Rio Grande do Sul, estimular a colaboração entre empresas, universidades e governo pode resultar em soluções inovadoras e sustentáveis, impulsionando o crescimento econômico e a prosperidade futura.
A Alemanha também vem sentindo efeitos das mudanças climáticas, como recentemente, com enchentes na região da Bavária. Que semelhanças e diferenças em relação aos eventos extremos no RS podem ser estabelecidas?
Na Alemanha, há um foco significativo em prevenção, sistemas de alerta precoce, que utilizam tecnologia de ponta para prever enchentes, permitindo que as comunidades se preparem melhor, e políticas de mitigação das mudanças climáticas. O país investiu fortemente em barragens, diques e sistemas de drenagem para controlar o fluxo de água e minimizar os impactos das enchentes. No entanto, não pensem que a Alemanha encontrou a solução perfeita. Em relação às enchentes, tivemos uma experiência semelhante perto de onde eu morava, em Rheinland-Pfalz e Nordrhein-Westfalen. Mesmo com a excelente abordagem adotada na Alemanha para lidar com tais eventos, os sistemas de alerta nem sempre são rápidos o suficiente. A água pode transbordar em poucas horas, não dando tempo suficiente para uma reação adequada. Na região da Alemanha que mencionei, algumas situações jamais serão as mesmas. Temos que aprender a viver com isso. Alguns locais permanecerão fechados, e as marcas d’água nas paredes são como cicatrizes nas cidades. Claro que também surgem novas oportunidades, mas temos que aprender a conviver com essas cicatrizes. Assim como em qualquer nova etapa, podemos ser mais resilientes, mais dedicados e mais preparados, mas devemos aceitar que isso pode acontecer novamente.
Qual o papel do setor produtivo?
O setor produtivo é fundamental para a reconstrução de uma economia mais resiliente. Como empresa de prestação de serviços, nosso papel é apoiar o setor produtivo em suas operações e estratégias. Podemos ajudar empresas a se restabelecer e crescer ao oferecer consultoria em gestão, suporte operacional e soluções tecnológicas inovadoras. Nossa presença no Rio Grande do Sul, com um escritório central em Porto Alegre e supervisionado pelo sócio local, Rafael Silveira Martins, nos permite entender as necessidades específicas da região e fornecer serviços personalizados que impulsionam a eficiência e a sustentabilidade das empresas locais. A experiência da Alemanha, especialmente na superação de desafios econômicos e ambientais, pode servir de modelo para o Rio Grande do Sul. A presença do nosso Presidente, Martin Wambach, em eventos importantes na região, como o organizado em Canela junto ao Kempinski Laje de Pedra, reforça nosso compromisso com o estado. Colaborando estreitamente com o setor produtivo, podemos promover uma reconstrução econômica robusta e sustentável, adotando práticas inovadoras e resilientes que beneficiem a todos.
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