A morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, em um incidente aéreo no final de semana tem forte impacto interno e, provavelmente, afetará a geopolítica do Oriente Médio.
Primeiro porque o político de 65 anos vinha sendo apontado como o sucessor do poderoso Ali Khamenei, o líder supremo da teocracia islâmica, ainda mais idoso (85 anos) e debilitado. Sem Raisi, a cadeira máxima do regime estará vaga em caso de morte de Khamenei - o que, certamente, provoca grande incerteza sobre a manutenção da Revolução.
O vácuo na sucessão nos leva ao segundo ponto interno: a ditadura iraniana vem sendo questionada em vários aspectos, mas principalmente por manifestações que começaram a eclodir a partir da morte de Mahsa Amini em 2022, sob custódio da regime. O fato de ela ter sido presa por não ter utilizado o hijab (o lenço islâmico), segundo a ordem truculenta do governo, levou centenas de pessoas às ruas do país - e originou protestos em várias nações.
Há uma grave crise de legitimidade interna. O receio de protestos que possam levar ao descontrole fez com que, como de hábito no Irã, a linha-dura dos aiatolás respondesse com mais repressão. As leis de moralidade foram recrudescidas.
Nos aspectos externos, a morte do presidente chega quatro meses depois do mais grave atentado terrorista da história do país sob o regime islâmico: em janeiro, o Estado Islâmico reivindicou a explosão que matou 80 pessoas e deixou mais de 300 feridas no sul do país.
Outro ponto que faz balançar o regime: a morte do líder ocorre em meio à disputa com a Arábia Saudita pela hegemonia de poder na região e apenas algumas semanas depois do ataque inédito com drones realizado contra Israel.
O Irã e o arco xiita que comanda, com seus proxies (Hamas, Houthis e Hezbollah), estão mais fragilizados do que nunca.