É constrangedor o silêncio de Lula, do PT e de parte da esquerda diante do ataque contra Herta Breslauer, uma comerciante judia, em Arraial D’Ajuda na sexta-feira (2). Passados três dias desde as agressões à mulher e a destruição de parte de seu patrimônio, o presidente da República, tão afeito a microfones, não veio a público repudiar esse claro ato de antissemitismo em território nacional.
Um dos poucos a se manifestar no governo, o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos e da Cidadania, fez um malabarismo de palavras para condenar o ato, apenas no segundo parágrafo de sua manifestação na rede social X (antigo Twitter). Preferiu começar conectando a agressão de origem racista à guerra entre Israel e Hamas: "A absoluta e necessária condenação do massacre contra o povo palestino na Faixa de Gaza, promovido pelo governo de Israel, não justifica e tampouco autoriza o antissemitismo", disse.
Almeida mediu palavras, emulando a dificuldade de outros integrantes do governo, que sempre precisam colocar, de forma equivocada, na mesma balança os dois fenômenos: a guerra de Israel contra o grupo terrorista Hamas e o antissemitismo.
Urge separar, como já comentei nesse espaço, as realidades: a ofensiva militar israelense, em resposta ao maior atentado terrorista de sua história, em 7 de outubro, deve ser tratada no âmbito do ciclo insano de violência do Oriente Médio, com suas idas e vindas, acertos e erros, avanços, retrocessos e nuances particulares. Em nada tem a ver com o antissemitismo, que é racismo em seu estado puro e não obedece fronteiras.
Uma das únicas vozes a ecoar do Planalto sem a necessidade de tergiversar sobre o assunto foi a do vice-presidente Geraldo Alckmin: "Repudio veementemente os recentes insultos antissemitas direcionados a Herta Breslauer, uma comerciante judia em Arraial D'Ajuda. Este tipo de comportamento é absolutamente inaceitável, especialmente em um país como o Brasil, conhecido por sua diversidade cultural e tolerância", afirmou no X.
É isso. Qual a dificuldade? Estão a serviço do que os dribles verbais? Se é ideologia, está equivocado.
Ainda assim, não chega a surpreender que agressões como essa, na Bahia, viessem a ocorrer, depois da convocação do ex-presidente do PT José Genoíno para que os brasileiros boicotarem empresas cujos proprietários são judeus.
Vale lembrar que o Brasil é um dos tantos lugares do mundo onde judeus e árabes convivem de forma harmônica. A nacionalização do conflito no Oriente Médio é não apenas equivocada como um ato de ignorância.