Nem no Brasil nem nos Estados Unidos há limite de idade para ser presidente. Deveria haver?
Então com 78 anos, Lula superou Michel Temer, em janeiro de 2023, ao tomar posse como o mais idoso presidente brasileiro. Nos EUA, Joe Biden também detém esse título, que antes era de Donald Trump. O democrata tem 81 anos. Caso vença a eleição em novembro, mês de seu aniversário, Biden será reconduzido ao cargo com 82. Se completar o mandato, terá 86 anos em 2028.
Todo esse cálculo está na cabeça dos americanos. Seria Biden idoso demais para concorrer ao segundo mandato? Trump, que tentará a revanche em novembro, não fica muito atrás. Se ganhar a eleição, terá 78 na eventual posse, em janeiro de 2025, e, se completar os quatro anos na Casa Branca, deixará o poder com 81.
A idade avançada do comandante-em-chefe da nação - e o possível declínio cognitivo, problemas de memória e dificuldade de processar novas informações decorrentes dela - tomam o debate eleitoral nos EUA desde a semana passada, quando o procurador especial Robert Hur divulgou um relatório que sequer tinha como mérito investigar a saúde mental ou neurológica de Biden. O objetivo do processo era analisar a posse de documentos confidenciais encontrados em um imóvel do presidente e se ele deveria ser processado por ter guardado, em casa, textos classificados como "top secret".
Biden se livrou do indiciamento pelo Departamento de Justiça. Mas mergulhou em uma crise na campanha. Tudo porque um trecho do relatório de Hur cita lapsos de memória preocupantes, percebidos durante uma entrevista de cinco horas que Biden concedeu no inquérito, no ano passado. No documento de 345 paginas, Hur afirmou que o presidente não se lembrava, por exemplo, de quando fora vice (de 2009 a 2017), e de quando seu filho Beau Biden morrera (2015).
O presidente convocou uma entrevista coletiva que deveria servir para desmentir - e até ridicularizar - o relatório. Mas o tiro acabou saindo pela culatra. No meio da conversa com os jornalistas, citou Abdul Fatah Al-Sisi, o ditador do Egito, mas o classificou como presidente do México.
- Acho que, como vocês sabem inicialmente, o presidente do México, Sisi, não queria abrir as portas para permitir a entrada de ajuda humanitária - afirmou, sobre o conflito entre Israel e Hamas.
O advogado da Casa Branca, Richard Sauber, escreveu uma carta anexada ao relatório, na qual explicou que "o relatório utiliza uma linguagem altamente prejudicial para descrever uma ocorrência comum entre as testemunhas: a falta de recordação de acontecimentos ocorridos há anos".
A discussão sobre a idade do presidente não é nova - em 2020, Trump seguidamente caçoava do concorrente Biden durante a campanha. Mas o relatório de Hur deu mais munição aos republicanos no momento em que Trump vem empilhando vitórias nas prévias do Partido Republicano.
Assim como Trump, Biden não tem adversários internos significativos. Ambos devem ser confirmados candidatos, mas os rumores sobre a saúde do democrata irão persegui-lo até agosto, data da convenção democrata. Mudar o candidato a essa altura da disputa, tardiamente para o longo ciclo eleitoral americano, seria entregar as chaves da Casa Branca nas mãos de Trump: Kamala Harrys, a vice-presidente, tem popularidade tão baixa quanto Biden, e o deputado Dean Phillips, rival interno nas prévias, não decola.